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A TERRA do ALTO ALENTEJO

A TERRA do ALTO ALENTEJO

14
Mar11

TOLOSA UTRAPASSA A FRONTEIRA

DELFOS

De informação Particular, de 6 de Janeiro de 1977, oferecida por António Augusto Batalha Gouveia:

"Dos inúmeros topónimos portugueses cuja origem lexial remota a um passado linguístico pré-indo-europeu, TOLOSA é um deles como se irá ter ocasião de verificar.
Tem-se dito que esta graciosa vila do Alto Alentejo foi fundada por elementos do mesmo clã que no sudoeste francês e na vizinha Espanha fundaram outras "Tolosas".
Quer isto dizer que o estudo relativo à origem do topónimo Tolosa servirão simultâneamente aos três países.

Acerca da Tolosa francesa (Toulouse), o Grande Larouse refere que o nome da importante cidade do Alto-Garona teria origem no apelido do rei mítico Tolus, descendente de Jafeth, um dos filhos do Noé bíblico. Por esta lenda, que alguma verdade encerra, se pode aquilatar da extrema antiguidade do topónimo Tolosa.

O interesse da lenda reside na circunstância de os escribas bíblicos considerarem Jafeth como o ancestral dos povos não semíticos nem camíticos, o que o coloca como o Pai dos povos indo-europeus e asiânicos. Estes asiânicos também conhecidos pelos nomes de turânicos ou simplesmente túrias, cujo "ubi", original havia sido o planalto do Turam, habitavam a Ásia Central e Setentrional, tendo-se dividido em três grupos a saber: os Sumérios, que ocupam o sul do Iraque: os Hurritas, que se estabeleceram entre a Síria e o Iraque, e finalmente, os Pro-Hititas que se espalharam pela Anatólia.

Entre os quatro e terceiros milénios da nossa era, operou-se uma migração maciça dos povos turânicos, os quais irradiaram para o Ocidente em várias direcções, tendo atingido a Itália, a Gália e a Ibéria.

Na Itália fundaram o reino da Atúria, nome que os romanos corromperam em Etrúria, designando o mar que lhes ficava fronteiro de Turano, fonetizando Tyrreno pelos habitantes do Lácio. Os turanos ou túrias, tinham como tótem tribal o touro (da raiz Tur), o qual era associado aos astros que comandavam as forças vitais da natureza, principalmente aquelas relacionadas com as perturbações atmosféricas.

O nome português tirano tem origem no gentílico turano, envolvendo aquele o conhecido conceito de "soberano absoluto" ou "despótico".

Entre os etruscos, conhecidos pelos gregos sob o nome de Tyrrenos, pontificava uma deusa do mar chamada Turam, a qual tinha a beleza fascinante da Afrodite grega e da Vénus romana.
Na faixa ocidental ibéria, os historiadores antigos registam a presença de clãs turânicos, tal como se reconhece nos gentílicos Turdetanos, Turoldis, Turones, Túrdulos, etc., povos que habitavam principalmente a área compreendida entre o Rio Mondego e o Litoral Algarvio.

O topónimo pré-cristão de Portalegre era Turóbriga, a qual a Turóbriga foi tempos pré-romanos sede de uma área cultural dedicada a uma divindade Atalgina Turobrigensis Dea.
O fonetismo incipiente das falas pré-indo-europeias, deu lugar a que o timbre da vogal imediana nas bases triliterais sofresse variações, o que fez com que a voz Tur também revestisse a prosódia Tar, a qual, por sua vez desenvolveu os heterófones Thar, Dar, e Der.

Os antigos Persas e os Babilónios, além de decorarem os painéis de tijolos envernizados das portas das cidades, com frisos de touros alados, postavam ainda dos seus lados esculturas de touros antropocéfalos, com a missão religiosa de guardarem e protegerem os citadinos.

Esta circunstância provocou na esfera semântica a conotação dos conceitos "Touro" e "porta" e daí o antigo alto-alemão Turi (actual Tor), o germânico dur, o antigo inglês duru (hoje door) e o grego Thura, todos com o sentido de "porta". Por seu turno o antigo Persa dispunha da variante Thar (actual Dar) para dominar a "porta".

A voz asiânica supracitada Turu "Touro" ou "porta" além do referido termo helénico Thura "porta" desenvolveu ainda a variante dialectual grega puros, donde o topónimo homérico Pylos designativo de Porta. A histórica cidade real persa Astar, também grafada Assar, foi pelos gregos apelidada de "Cem Portas" - Hekatompylos.
A dicção Tur ou Turu, por variação do ponto de articulação da variante r, evolui para Tul, Tulu, Tol, Tolu, etc., fenómeno este comum ao acima citado Puros helénico (Pylos).

Aquando da restauração da Porta de Isthar (corrupção caldaica da voz Astar, literalmente "Deus da Porta" ou "Planeta de vénus") na cidade da Babilónia, ordenada po Nabukhodonosor, este mandou gravar em placas de barro cozido os seguintes dizeres "... revesti a porta com tijolos esmaltados de azul, sobre os quais estavam representados touros selvagens e dragões. Mandei colocar sobre a Porta vigas de cedro revestidas de cobre, com seus suportes de bronze. Altivos touros de bronze e dragões furiosos foram postados à entrada. Embelezei esta porta a fim de provocar a admiração de todos os povos". (Babylone, colecção "Que Sais-je?)
Esta "vaidade" de Nabukhodonosar haveria de se transmitir à posteriedade na expressão portuguesa Tolo (de Tolu "porta"), o que aliás é corroborado pelo alemão Tor (Tolo e porta).

Desta forma se encontra investigado o primeiro termo constituido do topónimo Tolosa, isto é Tol ou Tolu; irei seguidamente examinar o segundo, ou seja osa.

Quando estudei o topónimo Nisa, aludi ao tema Usa ou Uza como sendo um dos nomes pelo qual era conhecido o planeta Vénus.
O Assírio dispunha igualmente da palavra Usa para denominar aquele planeta, já então considerado como o símbolo astral do amor, tendo o mesmo nome passado ao árabe com igual significado.
Donde priviria o termo assírico Usa? Os asiânicos, designadamente os Sumérios chamavam ao Sol o deus Utu. A páreda deste, Uta foi o protótipo do latim Uita "vida". Uta desenvolveu ainda os alófonos Utha, Utsa e finalmente Uza: O nome que os babilónios davam ao seu Noé diluviano era o de Uta - Napyshtym o qual se pode traduzir por "Vida das águas do Senhor".
A propósito do latim Uita oiçamos o que a seu respeito diz o eminente latinista A. Meillet:
"Acerca do latim uita "vida", não tenho a certeza se ele deriva de uinus, "vivo" ou se, por outro lado, não repousará sobre um antigo "gwita" prototipo do grego biotos, encurtado na forma "bios" "vida".

Eis, pois, chegado ao fim deste estudo.

O toponómio Tolosa traduz, como se acaba de ver, o mesmo conceito religioso que os babilónios davam, à maravilhosa PORTA DE ISHTAR, isto é, PORTA DE VÈNUS, PORTA DO AMOR, ou PORTA DA VIDA.
Não admira, pois, que os Tolosanos ou Tolosenses hajam consagrado a sua vetusta terra a Nossa Senhora da Encarnação, a qual através do amor vai servindo os desígnios de Deus."

Que maravilha... Mas foi Alexandre de Carvalho Costa que o cita...

03
Mar11

VIAGEM A UMA VILA DE AREZ

DELFOS
O Topónimo Arez, por vezes aparece referenciada como “Ares”, podendo-se relacionar com a interpretação à alusão dos bons ares da localidade.
Outra hipótese relaciona-se com o nome romano Arentius (Arentius era identificado como o deus romano Arencio), prendendo-se esta possibilidade com os vestígios existentes da romanização na região de Nisa, especialmente a Nisa-a-Velha. Ainda relacionadas com a ocupação romana existem algumas palavras relacionadas com o nome da aldeia: “Arens”, “Arentis” que significa seco ou árido, e “Aires” e “Ares”, topónimos existentes noutras regiões do mundo romano.

No foral de Marvão de 1226 fala-se já “come Ares”, crendo-se ser um topónimo estrangeiro importado por ocasião do repovoamento e colonização do Alentejo.

A ocupação mais antiga da região situa-se em Vila Velha do Ródão (Pedras Ruivas, acampamento paleolítico de 80 000 anos A.C.). Na região de influência de Arez circularam povoações que se fixaram em comunidades com organização, religião, divisão social de trabalho, usos e costumes, hábitos próprios relacionados com o meio natural envolvente.
Modos de vida que hoje se observam nas manifestações religiosas que são as Antas, na vida quotidiana nos instrumentos de sílex e pedra polida, nos objectos de adorno em osso ou em pedra, nas cerâmicas e mesmo no suporte pictórico de uma arte carregada de carácter simbólico e sagrado como é a Arte Rupestre do Tejo.

Esta arte foi sendo elaborada desde o Paleolítico Superior (10.000 AC) à Idade do Ferro (1.000 A.C). Ainda desde período, mais concretamente a partir do Neolítico (5 000 A.C.), são as Antas que existem no concelho de Nisa (a mais conhecida S. Gens). A presença do Domínio Romano comprova-se pelos materiais encontrados no concelho. Aras, material de construção (os “telhões”, as “pedras d’intigo”, a “caqueirada”), as moedas e alguns utensílios (fragmentos de barro).

Do período posterior, das movimentações de povos do norte, as chamadas Invasões Germânicas e do período de Ocupação Islâmica, temos pouca informação.
As populações continuam o seu trabalho quotidiano, muitas vezes indiferente às mudanças politicas, pagando tributos a quem rodava na cadeira das autoridades locais, e assimilando as inovações e ideias que as populações estrangeiras traziam.
 
O sistema de rega ainda usado actualmente não difere muito do utilizado nesses tempos. A nora e a picota devemos às sociedades de Norte de África Islamizados que nos legaram imenso conhecimento.

Após a Reconquista definitiva apresenta-se Arez perante o poder eclesiástico, nos tempos de D.Afonso III (1248-1279), ao bispado da Guarda, até 1278 quando por concordata entre o bispo de Évora, D. Martinho, e o bispo da Guarda, D.Rodrigo, se assentou em que com outras povoações se desmembrasse do bispado da Guarda passando a pertencer a Évora.
Após a reforma eclesiástica de 1882, Arez passou a fazer parte do bispado de Portalegre.

Entre os anos de 1198 e 1200, pelo que é indicado na Chancelaria de D.João II, a Comenda de Arez era criada.

Arez teve Foral dado por D.Manuel I, em Lisboa a 20 de Outubro de 1517. Era Comenda da Ordem de Cristo e como tal o pároco era seu freire professo. Num documento relativo às Cortes de Almeirim (1544), apresentado ao monarca D.João III pelos procuradores, são referidas as villas de “…Monte Allvã /Arees /Villa Frol /Alpalhão”.
 
Em 1704, em consequência da Guerra da Sucessão, a região sofreu prejuízos consideráveis pela passagem de tropas. No Numeramento de 1732 indica-se que Arez tinha perto de 340 habitantes distribuídos de igual forma pelas várias idades da população.

A segunda metade do século XVIII trouxe diversas movimentações militares. Também de 1809 a 1812 a Guerra Peninsular, com as suas tropas napoleónicas, continuaram os prejuízos causados pelos militares.
 
O concelho de Arez era anexado à comarca de Castelo Branco em 1833, bem como os de Montalvão, Alpalhão e Tolosa. Foi o concelho extinto em 1836 pela reforma judicial e definitivamente incorporado na comarca de Nisa em Novembro. Em 1866 Arez tinha cerca de 410 habitantes.

O Século XIX trouxe grande parte das características que toldam ainda hoje Arez. Com a circulação automóvel da segunda metade do Século XX, a estrada nacional que serve Arez viu passar o desenvolvimento à mesma velocidade da dos automóveis, não ganhando nenhuma actividade produtiva, com exclusão de algum pequeno comércio.

A aldeia viu ainda, durante o Estado Novo (década de 40) a criação da Casa do Povo, entidade mais virada para a prestação de cuidados de saúde e assistência em geral. Com o seu fim, viu transferidos os seus serviços para o Posto Médico local. Durante a Idade Média e até meados do século XIX teve “Misericórdia” e “Hospital” que consistia num espaço de tratamento de pequena dimensão, de que não há registo actual de localização.

Entre 1960 e 1991 o decréscimo da população rondou os 40%. A guerra colonial e a Emigração, sobretudo a partir da década de 60, para a Europa e América do Sul, foi a principal causa para este facto, ao que se deve acrescentar a partida de população para os grandes centros económicos onde os empregos ofereciam melhores condições de vida: Lisboa, e cidades em redor, Coimbra, Porto, Portalegre e Castelo Branco, entre outros.

As projecções oficiais para o ano de 2011 apontam para uma população idosa (mais de 65 anos) de cerca de 36% do total, contra 6% de jovens (menos de 15 anos). De facto, Arez, à semelhança de Nisa e do Norte Alentejano, tem visto perder e partir grande parte da sua riqueza humana. Em 1950 o concelho de Nisa possuía 19 920 habitantes, contra 9 864 em 1991.

Actualmente, em conformidade com todo o Norte Alentejano, ocorre um acentuado envelhecimento que caracteriza a sua demografia, pela desertificação e elevado desemprego, pelo progressivo e acentuado abandono dos espaços rurais, mas distingue-se, simultaneamente, inserida Arez no seu concelho de Nisa, pela existência conjunta de recursos e potencialidades que encerra no seu meio.
 
A extraordinária riqueza dos seus valores culturais, históricos, patrimoniais e artesanais, associados a uma atracção turística própria de um meio rural ainda fortemente preservado e de elevada qualidade, tornam o sector turístico um dos eixos estratégicos por onde não poderá deixar de passar o desenvolvimento da região e onde Arez poderá participar de forma activa.

in Arez - Retrato de uma aldeia,  Leitão, Ana Santos; Reis, Ricardo, 2001.
 
23
Out10

VALE DO PESO É NO CONCELHO DO CRATO

DELFOS

Hoje vamos ao Vale do Peso.
Continua a ser uma freguesia do concelho do Crato. Não deixa de parecer e ser também uma zona onde todo o Alto Alentejo começa.
É uma terra, não deixa de ser uma freguesia com 344 habitantes em (2001) para uma área de 65,62Km2. Que a WiKipedia a história assim lha conta.
O blog pensa que esta terra e freguesia vai seguir os mesmos passos que Atalaia e Arez... 
Mas o blog, para alegrar a malta, o blog hoje leva a rapaziada até esta doce "Vale do Peso", e cita Pinho Leal no seu Portugal Antigo e Moderno:

"freguezia, Alemtejo, concelho a 6 Kilometros do Crato, comarca de Niza (foi do mesmo concelho, mas da comarca de Portalegre).
180 Kilometros ao S. E. de Lisboa, 110 fogos.
Em 1768, tinha 120,
Orago, Nossa Senhora da Luz. E`no priorado do Crato, annexo ao patriarchado. Districto admnistrativo de Portalegre.

O grão prior do Crato (da ordem de Malta) apresentava o cura, que tinha de renda - 120 alqueires de trigo, 24 almudes de vinho crú. meia carga de uva preta, e 3$000 reis em dinheiro.

É uma povoação agradavelmente situada, em uma collina pouco elevada, entre as freguezias de Flor da Rosa e Alpalhão, e a uns 250 metros, a O., da estrada real, à maçadam , do Crato para Niza, Fundão, Castello-Branco, Covilham, Guarda, etc. - Estrada importante, que liga a Beira Baixa e uma boa parte do Alto alemtejo com a estação do Crato, no caminho de ferro de S. E., o qual liga Lisboa com Badajoz.
Esta estação, fica entre as da Chança e Portalegre. A estação do Pêso, na linha de Cáceres, passa também a poucos Kilómetros, ao N., de Val do Pêso.
Dá o nome a esta freguezia, um pequeno valle, contiguo à povoação (a E.) muito mimoso, com hortas e pomares; sendo notáveis  as suas figueiras, pela sua belleza e tamanho descommunal delas...."

19
Out10

A LENDA DA CASINHA DAS BRUXAS EM TOLOSA

DELFOS

" Junto ao caminho velho que antigamente fazia a ligação entre Tolosa e Nisa, havia uma gruta, conhecida entre a população por "Casinha das bruxas".
Segundo a tradição, era ali que esses entes estranhos, tão enraizados na crendice popular, preparavam as suas incursões nocturnas.
Já noite adiantada, apareciam a cantar e dançar nas encruzilhadas dos caminhos, revelando uma histeria demoníaca.
Todo o povo andava aterrorizado.
As crianças andavam amedrontadas e o seu sono era povoado de sonhos terríficos.
Para pôr termo a esta situação, juntaram-se quatro rapazes valentes e resolutos, que não acreditavam em bruxas.
Pela calada da noite, sem que elas sentissem a sua chegada, surgiram inesperadamente entre as participantes na dança demoníaca. Ainda quiseram fugir, mas as mãos fortes e calorosas dos mancebos seguraram-nas como tenazes. Ali mesmo foram desmascaradas.
Foram depois conduzidas à "Casinha das Bruxas", onde permaneceram o resto da noite, sob forte vigilância.
No dia seguinte, em pleno dia, foram expostas na praça pública, sujeitas aos olhares e apupos da população indignada.
Envergonhadas e humilhadas por todos, essas mulheres depressa . abandonaram a povoação para sempre. Certamente aproveitaram a lição, para nunca mais brincarem às bruxas.
A calma voltou ao povoado.
Já  ninguém acreditava em bruxas.
Ao sono das crianças a tranquilidade regressou. "
in "PEQUENA MONOGRAFIA DE TOLOSA /  ALZIRA MARIA FILIPE LEITÂO"

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