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A TERRA do ALTO ALENTEJO

A TERRA do ALTO ALENTEJO

14
Mar11

TOLOSA UTRAPASSA A FRONTEIRA

DELFOS

De informação Particular, de 6 de Janeiro de 1977, oferecida por António Augusto Batalha Gouveia:

"Dos inúmeros topónimos portugueses cuja origem lexial remota a um passado linguístico pré-indo-europeu, TOLOSA é um deles como se irá ter ocasião de verificar.
Tem-se dito que esta graciosa vila do Alto Alentejo foi fundada por elementos do mesmo clã que no sudoeste francês e na vizinha Espanha fundaram outras "Tolosas".
Quer isto dizer que o estudo relativo à origem do topónimo Tolosa servirão simultâneamente aos três países.

Acerca da Tolosa francesa (Toulouse), o Grande Larouse refere que o nome da importante cidade do Alto-Garona teria origem no apelido do rei mítico Tolus, descendente de Jafeth, um dos filhos do Noé bíblico. Por esta lenda, que alguma verdade encerra, se pode aquilatar da extrema antiguidade do topónimo Tolosa.

O interesse da lenda reside na circunstância de os escribas bíblicos considerarem Jafeth como o ancestral dos povos não semíticos nem camíticos, o que o coloca como o Pai dos povos indo-europeus e asiânicos. Estes asiânicos também conhecidos pelos nomes de turânicos ou simplesmente túrias, cujo "ubi", original havia sido o planalto do Turam, habitavam a Ásia Central e Setentrional, tendo-se dividido em três grupos a saber: os Sumérios, que ocupam o sul do Iraque: os Hurritas, que se estabeleceram entre a Síria e o Iraque, e finalmente, os Pro-Hititas que se espalharam pela Anatólia.

Entre os quatro e terceiros milénios da nossa era, operou-se uma migração maciça dos povos turânicos, os quais irradiaram para o Ocidente em várias direcções, tendo atingido a Itália, a Gália e a Ibéria.

Na Itália fundaram o reino da Atúria, nome que os romanos corromperam em Etrúria, designando o mar que lhes ficava fronteiro de Turano, fonetizando Tyrreno pelos habitantes do Lácio. Os turanos ou túrias, tinham como tótem tribal o touro (da raiz Tur), o qual era associado aos astros que comandavam as forças vitais da natureza, principalmente aquelas relacionadas com as perturbações atmosféricas.

O nome português tirano tem origem no gentílico turano, envolvendo aquele o conhecido conceito de "soberano absoluto" ou "despótico".

Entre os etruscos, conhecidos pelos gregos sob o nome de Tyrrenos, pontificava uma deusa do mar chamada Turam, a qual tinha a beleza fascinante da Afrodite grega e da Vénus romana.
Na faixa ocidental ibéria, os historiadores antigos registam a presença de clãs turânicos, tal como se reconhece nos gentílicos Turdetanos, Turoldis, Turones, Túrdulos, etc., povos que habitavam principalmente a área compreendida entre o Rio Mondego e o Litoral Algarvio.

O topónimo pré-cristão de Portalegre era Turóbriga, a qual a Turóbriga foi tempos pré-romanos sede de uma área cultural dedicada a uma divindade Atalgina Turobrigensis Dea.
O fonetismo incipiente das falas pré-indo-europeias, deu lugar a que o timbre da vogal imediana nas bases triliterais sofresse variações, o que fez com que a voz Tur também revestisse a prosódia Tar, a qual, por sua vez desenvolveu os heterófones Thar, Dar, e Der.

Os antigos Persas e os Babilónios, além de decorarem os painéis de tijolos envernizados das portas das cidades, com frisos de touros alados, postavam ainda dos seus lados esculturas de touros antropocéfalos, com a missão religiosa de guardarem e protegerem os citadinos.

Esta circunstância provocou na esfera semântica a conotação dos conceitos "Touro" e "porta" e daí o antigo alto-alemão Turi (actual Tor), o germânico dur, o antigo inglês duru (hoje door) e o grego Thura, todos com o sentido de "porta". Por seu turno o antigo Persa dispunha da variante Thar (actual Dar) para dominar a "porta".

A voz asiânica supracitada Turu "Touro" ou "porta" além do referido termo helénico Thura "porta" desenvolveu ainda a variante dialectual grega puros, donde o topónimo homérico Pylos designativo de Porta. A histórica cidade real persa Astar, também grafada Assar, foi pelos gregos apelidada de "Cem Portas" - Hekatompylos.
A dicção Tur ou Turu, por variação do ponto de articulação da variante r, evolui para Tul, Tulu, Tol, Tolu, etc., fenómeno este comum ao acima citado Puros helénico (Pylos).

Aquando da restauração da Porta de Isthar (corrupção caldaica da voz Astar, literalmente "Deus da Porta" ou "Planeta de vénus") na cidade da Babilónia, ordenada po Nabukhodonosor, este mandou gravar em placas de barro cozido os seguintes dizeres "... revesti a porta com tijolos esmaltados de azul, sobre os quais estavam representados touros selvagens e dragões. Mandei colocar sobre a Porta vigas de cedro revestidas de cobre, com seus suportes de bronze. Altivos touros de bronze e dragões furiosos foram postados à entrada. Embelezei esta porta a fim de provocar a admiração de todos os povos". (Babylone, colecção "Que Sais-je?)
Esta "vaidade" de Nabukhodonosar haveria de se transmitir à posteriedade na expressão portuguesa Tolo (de Tolu "porta"), o que aliás é corroborado pelo alemão Tor (Tolo e porta).

Desta forma se encontra investigado o primeiro termo constituido do topónimo Tolosa, isto é Tol ou Tolu; irei seguidamente examinar o segundo, ou seja osa.

Quando estudei o topónimo Nisa, aludi ao tema Usa ou Uza como sendo um dos nomes pelo qual era conhecido o planeta Vénus.
O Assírio dispunha igualmente da palavra Usa para denominar aquele planeta, já então considerado como o símbolo astral do amor, tendo o mesmo nome passado ao árabe com igual significado.
Donde priviria o termo assírico Usa? Os asiânicos, designadamente os Sumérios chamavam ao Sol o deus Utu. A páreda deste, Uta foi o protótipo do latim Uita "vida". Uta desenvolveu ainda os alófonos Utha, Utsa e finalmente Uza: O nome que os babilónios davam ao seu Noé diluviano era o de Uta - Napyshtym o qual se pode traduzir por "Vida das águas do Senhor".
A propósito do latim Uita oiçamos o que a seu respeito diz o eminente latinista A. Meillet:
"Acerca do latim uita "vida", não tenho a certeza se ele deriva de uinus, "vivo" ou se, por outro lado, não repousará sobre um antigo "gwita" prototipo do grego biotos, encurtado na forma "bios" "vida".

Eis, pois, chegado ao fim deste estudo.

O toponómio Tolosa traduz, como se acaba de ver, o mesmo conceito religioso que os babilónios davam, à maravilhosa PORTA DE ISHTAR, isto é, PORTA DE VÈNUS, PORTA DO AMOR, ou PORTA DA VIDA.
Não admira, pois, que os Tolosanos ou Tolosenses hajam consagrado a sua vetusta terra a Nossa Senhora da Encarnação, a qual através do amor vai servindo os desígnios de Deus."

Que maravilha... Mas foi Alexandre de Carvalho Costa que o cita...

03
Mar11

VIAGEM A UMA VILA DE AREZ

DELFOS
O Topónimo Arez, por vezes aparece referenciada como “Ares”, podendo-se relacionar com a interpretação à alusão dos bons ares da localidade.
Outra hipótese relaciona-se com o nome romano Arentius (Arentius era identificado como o deus romano Arencio), prendendo-se esta possibilidade com os vestígios existentes da romanização na região de Nisa, especialmente a Nisa-a-Velha. Ainda relacionadas com a ocupação romana existem algumas palavras relacionadas com o nome da aldeia: “Arens”, “Arentis” que significa seco ou árido, e “Aires” e “Ares”, topónimos existentes noutras regiões do mundo romano.

No foral de Marvão de 1226 fala-se já “come Ares”, crendo-se ser um topónimo estrangeiro importado por ocasião do repovoamento e colonização do Alentejo.

A ocupação mais antiga da região situa-se em Vila Velha do Ródão (Pedras Ruivas, acampamento paleolítico de 80 000 anos A.C.). Na região de influência de Arez circularam povoações que se fixaram em comunidades com organização, religião, divisão social de trabalho, usos e costumes, hábitos próprios relacionados com o meio natural envolvente.
Modos de vida que hoje se observam nas manifestações religiosas que são as Antas, na vida quotidiana nos instrumentos de sílex e pedra polida, nos objectos de adorno em osso ou em pedra, nas cerâmicas e mesmo no suporte pictórico de uma arte carregada de carácter simbólico e sagrado como é a Arte Rupestre do Tejo.

Esta arte foi sendo elaborada desde o Paleolítico Superior (10.000 AC) à Idade do Ferro (1.000 A.C). Ainda desde período, mais concretamente a partir do Neolítico (5 000 A.C.), são as Antas que existem no concelho de Nisa (a mais conhecida S. Gens). A presença do Domínio Romano comprova-se pelos materiais encontrados no concelho. Aras, material de construção (os “telhões”, as “pedras d’intigo”, a “caqueirada”), as moedas e alguns utensílios (fragmentos de barro).

Do período posterior, das movimentações de povos do norte, as chamadas Invasões Germânicas e do período de Ocupação Islâmica, temos pouca informação.
As populações continuam o seu trabalho quotidiano, muitas vezes indiferente às mudanças politicas, pagando tributos a quem rodava na cadeira das autoridades locais, e assimilando as inovações e ideias que as populações estrangeiras traziam.
 
O sistema de rega ainda usado actualmente não difere muito do utilizado nesses tempos. A nora e a picota devemos às sociedades de Norte de África Islamizados que nos legaram imenso conhecimento.

Após a Reconquista definitiva apresenta-se Arez perante o poder eclesiástico, nos tempos de D.Afonso III (1248-1279), ao bispado da Guarda, até 1278 quando por concordata entre o bispo de Évora, D. Martinho, e o bispo da Guarda, D.Rodrigo, se assentou em que com outras povoações se desmembrasse do bispado da Guarda passando a pertencer a Évora.
Após a reforma eclesiástica de 1882, Arez passou a fazer parte do bispado de Portalegre.

Entre os anos de 1198 e 1200, pelo que é indicado na Chancelaria de D.João II, a Comenda de Arez era criada.

Arez teve Foral dado por D.Manuel I, em Lisboa a 20 de Outubro de 1517. Era Comenda da Ordem de Cristo e como tal o pároco era seu freire professo. Num documento relativo às Cortes de Almeirim (1544), apresentado ao monarca D.João III pelos procuradores, são referidas as villas de “…Monte Allvã /Arees /Villa Frol /Alpalhão”.
 
Em 1704, em consequência da Guerra da Sucessão, a região sofreu prejuízos consideráveis pela passagem de tropas. No Numeramento de 1732 indica-se que Arez tinha perto de 340 habitantes distribuídos de igual forma pelas várias idades da população.

A segunda metade do século XVIII trouxe diversas movimentações militares. Também de 1809 a 1812 a Guerra Peninsular, com as suas tropas napoleónicas, continuaram os prejuízos causados pelos militares.
 
O concelho de Arez era anexado à comarca de Castelo Branco em 1833, bem como os de Montalvão, Alpalhão e Tolosa. Foi o concelho extinto em 1836 pela reforma judicial e definitivamente incorporado na comarca de Nisa em Novembro. Em 1866 Arez tinha cerca de 410 habitantes.

O Século XIX trouxe grande parte das características que toldam ainda hoje Arez. Com a circulação automóvel da segunda metade do Século XX, a estrada nacional que serve Arez viu passar o desenvolvimento à mesma velocidade da dos automóveis, não ganhando nenhuma actividade produtiva, com exclusão de algum pequeno comércio.

A aldeia viu ainda, durante o Estado Novo (década de 40) a criação da Casa do Povo, entidade mais virada para a prestação de cuidados de saúde e assistência em geral. Com o seu fim, viu transferidos os seus serviços para o Posto Médico local. Durante a Idade Média e até meados do século XIX teve “Misericórdia” e “Hospital” que consistia num espaço de tratamento de pequena dimensão, de que não há registo actual de localização.

Entre 1960 e 1991 o decréscimo da população rondou os 40%. A guerra colonial e a Emigração, sobretudo a partir da década de 60, para a Europa e América do Sul, foi a principal causa para este facto, ao que se deve acrescentar a partida de população para os grandes centros económicos onde os empregos ofereciam melhores condições de vida: Lisboa, e cidades em redor, Coimbra, Porto, Portalegre e Castelo Branco, entre outros.

As projecções oficiais para o ano de 2011 apontam para uma população idosa (mais de 65 anos) de cerca de 36% do total, contra 6% de jovens (menos de 15 anos). De facto, Arez, à semelhança de Nisa e do Norte Alentejano, tem visto perder e partir grande parte da sua riqueza humana. Em 1950 o concelho de Nisa possuía 19 920 habitantes, contra 9 864 em 1991.

Actualmente, em conformidade com todo o Norte Alentejano, ocorre um acentuado envelhecimento que caracteriza a sua demografia, pela desertificação e elevado desemprego, pelo progressivo e acentuado abandono dos espaços rurais, mas distingue-se, simultaneamente, inserida Arez no seu concelho de Nisa, pela existência conjunta de recursos e potencialidades que encerra no seu meio.
 
A extraordinária riqueza dos seus valores culturais, históricos, patrimoniais e artesanais, associados a uma atracção turística própria de um meio rural ainda fortemente preservado e de elevada qualidade, tornam o sector turístico um dos eixos estratégicos por onde não poderá deixar de passar o desenvolvimento da região e onde Arez poderá participar de forma activa.

in Arez - Retrato de uma aldeia,  Leitão, Ana Santos; Reis, Ricardo, 2001.
 
16
Fev11

ALENTEJO NO NORTE DO ALENTEJO

DELFOS
Charneca!
Pela agreste que nos ouvidos, soa plena de aridez e de rudeza.

Lembra a secura da Planície.
A amargura insipidez de tanto quadro semelhante.

Charneca!
Charneca lembra a terra dura.

O campo ressequido ao sol ardente.
A campina a desbroar-se em ermo e solidão.

Charneca!
Lembra o silêncio perturbador do descampado.
O pavor da distância indefinida.
A monotonia da planura sem fim.

Charneca!
Lembra a natureza impregnada de mistério,
criando em nós a magia da amplidão a da quietude.

Charneca!
Lembra a vastidão do mar. A turva imensidão do mar!
Mar a que não faltam ondas,
quando a ventania corre, à deriva, pelas searas.

Charneca!
Lembra a aspereza dos cenários.
Rudes cenários, em que, fatidicamente,
mourejam tantas almas simples -
- gente que tem a vida na vida da própria terra.

Charneca!
Lembra a alma impressionante dos "montes",
habitações qgachadas, espalmadas nas Planície!
Casas pequenas, onde, à noitinha ,
se recolhem famílias que labutam,
uma vida inreira,
nos campos incomensuráveis.

Charneca!
Lembra o suplícido do arvoredo.
A dor marcada nos retorcidos troncos dos místicos sobreiros.
Solitários monges da Charneca!
Monges martirizados que parecem fitar,
de braços entrelaçados e resignados,
a curva azul do céu,
- "gritando a Deus - como diria Florbela -
a bênção de uma fonte!"

Charneca!
Lembra o olhar infinitamente nostálgico
e extático dos bois.

O olhar lânguido e mormo que eles entornam
pelas imensas várzeas ondulantes.

Charneca!
Lembra os montados. as manadas. Os rebanhos.
Lembra os pobres ganadeiros
que vêm nascer e morrer
gerações de animais
que se habituaram a estimar
HOMENS que se esquecem de tudo à sua volta,
dos dias da semana como os meses do ano,
sabendo apenas em que altura cai
o S. Miguel ou o S. Mateus,
porque o patrão lhes dará um fato novo..................

in "HORÁCIO NOGUEIRA - HÁ VIDA na CHARNECA" - 1956
02
Fev11

CIDADE ROMANA DE AMMAIA NO CONCELHO DE MARVÃO

DELFOS
2011/02/01 Posted in: Alentejo, Cidades Romanas em Portugal e no espaço http://www.portugalromano.com/?p=670 "

- Próximo da vila de Marvão surge um dos mais importantes vestígios da civilização romana no Norte Alentejo e embora a crea escavada ainda seja diminuta, é possível verificar todo o seu potencial enquanto vestígio de uma cidade romana que não sofreu o continuo assentamento urbano de diferentes épocas no mesmo espaço.

«Entrada sul da cidade»

A cidade de Ammaia terá sido fundada provavelmente entre o final do século I a. C., e o início do século I d. C., aparentemente segundo as regras do ordenamento do território de Vitrúvio, arquitecto e urbanista romano do século I a.C, como parecem demonstrar os vestígios até agora encontrados.

«Vista da serra do Marvão»

Os testemunhos epigráficos amaienses, ainda que não indiquem datas, sugerem uma valorização da cidade por meados do século I, muito provavelmente em consequência de um processo desenvolvido no âmbito da promoção de numerosos centros urbanos na Hispánia meridional por iniciativa do Imperador Cláudio.

Conservada e sem quaisquer construçõeses na sua área de implementação, encontra-se apenas descoberto a porta sul, o podium de um templo, e numa fase inicial as termas, as piscinas e os canais de água, apenas 2% da área total da cidade, com cerca de 20ha e onde se estima terem habitado entre 4 e 5 mil habitantes.

A Ammaia apresenta uma malha urbana muito bem delimitada tendo sido detectados até ao momento diversos edifícios públicos, adivinhando-se também a existência de uma basílica, um teatro e um anfiteatro.

A cidade romana terá sido ocupada pelo menos até meados do século VI d.C., abandonada posteriormente a esta data, tendo sido ocupada esporadicamente após esse período, mantendo apenas uma população residual, altura em que terão surgido outros aglomerados populacionais com carácter mais defensivo que lhe tomaram o lugar, ter-se-á dado assim o aparecimento de Marvão, Marwan para os povos islámicos que no século IX ocupam toda a região do Alto Alentejo.

Arqueologia em AMMAIA

Civitas Ammaia, julgou-se até 1935 que essa cidade teria existido no local onde se viria a desenvolver Portalegre. Essa confusão ficou a dever-se a uma inscrição romana identificada numa parede da ermida do Espírito Santo daquela cidade na qual se referia o município de Ammaia. Contudo, sabe-se hoje que muita pedra aparelhada com que foram construção dos alguns dos principais edifícios de Portalegre foi trazida das ruínas de AMMAIA.

Entre essas pedras encontrava-se a ara que agora se guarda no Museu de Portalegre e que motivou tanta confusão.

Da cidade de Ammaia, sobretudo a partir do século XVI, sairam muitas pedras com que se construiram palácios e igrejas em Portalegre, muitas também foram utilizadas na construção das muralhas de Marvão e de Castelo de Vide e em várias edificaçõeses particulares.

Até que Leite de Vasconcelos identificou a nova inscriçãoo entre as ruinas da Aramenha, estas eram consideradas como os restos de uma cidade denominada Medóbriga. A atribuição do nome Medóbriga ficou a dever-se sobretudo a André de Resende e a inscrição desse topónimo numa lápide que se encontra na Ponte Romana de Alcântara.

Uma das portas da sua velha muralha foi transportada para Castelo de Vide em 1710 e posteriormente destruída.

«Arco da antiga porta de Ammaia em Castelo de Vide»

Num trabalho datado de 1852 o investigador espanhol D. José de Viu refere, que no seu tempo, mais de vinte belas estátuas de mármore recolhidas na Aramenha foram vendidas para Inglaterra.

A Fundaão Ammaia estabeleceu já contactos com instituições museológicas inglesas para saber onde podem ter ido parar as esculturas, mas até agora sem resultados...

... Resta apenas uma, que pode ser vista no museu de Ammaia, tem sido atribuíada a Britânico, o infeliz filho de Cláudio e de Messalina, nascido em 42 e assassinado em 55, o que permitiria situar a estátua e o forum, se a escultura fazia parte de um programa destinado ao mesmo, por meados do século I. Mas existe outra hipótese, que é a de atribuir a estátua a Nero, filho do primeiro casamento de Agripina e que foi adoptado por Cláudio em 50, com doze anos de idade, recebendo, dois anos depois, o título de Princeps Iuventutis. Embora o estado da peça não permita avançar muito mais, quer se trate de Britânico ou de Nero, este testemunho sugere, mais uma vez, uma data para início da construçao do forum próxima do final do principado de Cláudio.

«Estátua de togado com bulla, achada na Escusa (Museu da Ammaia) - tem sido atribuída a Britânico»

Nas últimas décadas foi possível começar a recolher algumas inscriões que se mostram hoje no Museu Municipal de Marvão (2). Sobretudo pelas mãos de António Maçãs e Leite de Vasconcelos foram carregados para o Actual Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa inúmeras peças recolhidas em Ammaia.

«Museu monográfico da Ammaia»

«a cidade foi engolida pela terra»

Com o inicio dos trabalhos arqueológicos em Ammaia, ( Outubro de 1994 ), começou a constatar-se que, sobretudo a zona baixa da cidade, se encontrava bem preservada sob uma uniforme camada de terras e calhaus rolados, transportados a grande velocidade provenientes das cotas mais elevadas. Começava-se, assim, a confirmar o que a memória popular tinha guardado - «a cidade foi engolida pela terra». Por causas ainda não determinadas verifica-se que entre os séculos V e o IX, da nossa era, a cidade de Ammaia, já em decadência, sofreu os efeitos de um qualquer cataclismo que ao soterrá-la a conservou, proporcionando que a uma profundidade média de 80 cm se possam identificar importantes estruturas arquitectónicas, como a grande praça pública lajeada que ladeia uma das portas da cidade. Na área do forum levanta-se o podium de um templo e por uma área superior a 17 hectares são visíveis testemunhos da cidade de Ammaia. Numa das encostas sobranceiras ao Rio Sever rasga-se o assento das bancadas de um recinto para espectéculos públicos.

«Termas do Forum»

Os mosaicos, aquedutos e calçadas que os autores dos séculos XVI, XVII e XVIII referem, ainda não foram identificados. Neste momento apenas uma ínfima parte da zona baixa da Cidade de Ammaia foi objecto de escavaço e estudo, possibilitando, mesmo assim, recuperar um conjunto muito significativo de materiais arqueológicos e evidenciar estruturas habitacionais e públicas de grande importância.

Descrita por autores clássicos como Plínio, pelos autores árabes, como Isa Ibn Áhmad ar-Rázi, e pelos mais conhecidos escritores e historiadores desde o século XVI.

A par do interesse pela investigação de uma das poucas cidades romanas que não se esconde sob construções de épocas posteriores, que por norma inviabilizam estudos alargados e sistemáticos, a maior parte da área ocupada pelas ruínas foi adquirida tendo em vista a sua escavação e recuperação.

Ammaia Romana

Do que resta da ocupa�o humana na cidade, para alem dos vestígios habitacionais, o visitante poder� desfrutar de uma visita ao Museu monográfico (1) onde estão patentes duas exposições com materiais que foram recolhidos ao longo dos tempos na cidade, quer no decorrer dos trabalhos agrícolas, quer j� com a realização de escavações arqueológicas no período entre os anos de 1995 e 2006.

«Museu monográfico da Ammaia»

Uma das exposições demonstra a vida quotidiana da população que viveu nesta cidade romana, e a outra, - fruto do trabalho de um coleccionador, o senhor António Maãs, que viveu paredes-meias com as ruanas da cidade, na vizinha Quinta dos Olhos D´água, e que na sua época conseguiu, em parceria com o Prof. Leite de Vasconcelos, recolher uma importante colecção de peças da Ammaia.

«Inscrião em honra do imperador Cláudio, com a primeira referncia à Civitas Ammaiensis
(foto: Museu Nacional de Arqueologia)»

Uma parte dessa colecção encontra-se depositada no Museu Nacional de Arqueologia e a outra foi recentemente entregue ao Museu de Ammaia para estar patente no seu espaço museológico. Esta colecção/exposição é composta por diversas peças cerâmicas, inscrições, moedas, objectos de adorno e vidros romanos que foram recolhidos em Ammaia desde os inícios do séc. XX e que correspondem a uma das mais importantes colecções de vidros romanos da Península Ibérica.

Porta Sul

Os trabalhos nesta área identificaram duas estruturas circulares, que revelaram ser o arranque de duas torres. Estas ladeavam uma das portas da cidade, estando por sua vez adossadas à muralha romana, as torres possuem um diâmetro externo de 6,30m e estavam ligadas por um arco - Arco da Aramenha, transportado para Castelo de Vide.

Alargando-se a escavação para o interior da cidade, descobriu-se uma praça pública, pavimentada com blocos de granito muito regulares, o lajeado do lado direito possui um comprimento de 21,30m, e uma largura de 10,75m, do lado esquerdo, apenas se conservaram algumas lajes, in situ.

«Torre»

»Um pequeno dado de jogar, em osso, foi encontrado numa das torres da porta sul, no mesmo local onde foram também encontradas muitas moedas - será que os guardas transformavam a torre numa sala de jogo informal para matar o tédio? «

«Vista da entrada na cidade pela Porta sul»

Os lajeados ladeiam uma das principais ruas da cidade (Kardo Maximus), que segue em direcção ao Fórum, possuindo cerca de 4m de largura, no entanto, os vestígios da calçada original desapareceram, restando apenas as peças que constituíam a soleira da porta.

«Peça de granito da estrutura da soleira»

Esta soleira é formada por cinco peças de granito, duas delas encontradas in situ. A construção deste conjunto monumental na segunda metade do séc. I d. C., implicou a demolição parcial de algumas habitações mais antigas que remontam aos inícios do império.

«conjunto monumental - Porta sul»

Termas do Forum

Em 1996 identificou-se um pequeno tanque revestido por placas de mármore, que faria parte do complexo balneário do Forum. Seria provavelmente o tepidarium (tanque de água tépida), ou o frigidarium (tanque de água fria).

«Área das Termas do Forum»

A envolver este tanque surgem algumas estruturas pertencentes ao complexo termal. Recentemente, foi posta a descoberto parte de uma natatio, piscina maior do edifício, que poderia ser coberta ou ao ar livre. A oeste encontra-se a EN359 que destruiu uma parte significativa deste edifício.

Fórum e Templo

«podium do templo da civitas»

Na Tapada da Aramenha, eleva-se uma estrutura rectangular (18m x 9m), com uma altura máxima de 2,50m, correspondendo ao podium de um templo.

«Templo e Forum Romano»

Apresentando um enchimento de terra argilosa e opus incertum que seria revestido com blocos de granito e dividido em duas partes (a cella e o pórtico do átrio) por um muro transversal ainda visível. As escavações na área envolvente do podium permitiram delimitar o edifício com maior monumentalidade da cidade, o Forum.

«estruturas romanas do Forum»

Era aqui, que se centravam os poderes administrativo, religioso e judicial da civitas, rodeado por cerca de 20 lojas e onde a popula�o da cidade e da região vinha prestar culto às divindades do panteão romano e indígena.

«Radio past - Radiografia da cidade romana de Ammaia»

Nos últimos anos, várias equipas de arqueologia provenientes de toda a Europa têm desenvolvido um conjunto de métodos para o estudo de importantes sítios arqueológicos soterrados. O objectivo destes métodos que não destroem paredes, pisos e objectos que ainda estejam soterrados, é limitar intervençoes destrutivas e onerosas como as escavações.

«Projecto 2D - reconstituição da Porta sul e Forum romano»

Este trabalho inclui diferentes tipos de teledetecção (fotografia aérea, laser scanning, etc.), métodos geofísicos terrestres (georadar, prospecção magnética), SIG baseado em ferramentas de análise e visualização e outros sofisticados métodos de prospecção.

Estas tecnologias aplicadas podem ajudar os arqueólogos a adquirir uma visão mais precisa do passado soterrado e ajudá-los em experiências de reconstrução do «antigo mundo subterrâneo» e na divulgação dos resultados da investigação ao público.

«Trabalhos de protecção de estruturas no Templo (2010)»

A coordenação científica do projecto é da responsabilidade da Universidade de Évora, que contratou dois professores, o belga Frank Vermeulen e a italiana Cristina Corsi, para trabalhar com os arqueólogos portugueses Joaquim Carvalho e Sofia Borges.

Resultado desse trabalho, sabe-se agora que a praça pública de Ammaia está cercada por 20 lojas, um templo e uma basílica (tribunal) e foi embelezada com monumentais pórticos, estátuas e fontes. A partir deste plano 2D, obtido com esta nova tecnologia, os especialistas irão agora reconstruir um modelo 3D do coração da cidade romana e a longo prazo, está em projecto uma completa reconstrução digital da cidade.

O projecto Radio Past (www2.radiopast.eu) vai disponibilizar uma visita virtual à Cidade de Ammaia, em quiosques multimédia, com filmes e modulações 3D, durante o ano de 2011 e 2012.

Ammaia, «a das ruínas», de regresso « vida.»

O trabalho de recuperação e valorização da Cidade Romana de Ammaia, recebeu o Prémio Vilalva 2009 para a recuperação do património, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian.

"A grande relevância histórica, patrimonial e técnico-científica do projecto de recuperação e valorização de um sitio arqueológico ímpar no panorama nacional" foi o motivo que levou o júri a atribuir este prémio.

Lendas de Ammaia�

...Da grande cidade, nos principios deste século, apenas restavam à superfície alguns muros que a memória popular diz serem os que a terra não conseguiu engolir. As ruas e casas da velha urbe lentamente deram lugar a terrenos de lavoura. De quando em quando um arado vai mais fundo e levanta alguma cantaria ou canalização trazendo até à superfície alguns restos da desaparecida Ammaia. E, gradualmente, na tradição popular começou a construir-se uma lenda. A velha cidade da Aramenha tinha sido engolida pela terra durante um grande terramoto. A cidade está intacta, mas muito funda, dizem alguns. As telhas que o arado ainda arranca fazem parte dos telhados dos palácios soterrados, afirmam outros. À lenda da cidade soterrada associa-se a dos tesouros que ainda aí se guardariam. A procura destes lendários tesouros tem contribuído, ainda mais, para que os poucos muros e alicerces ainda sobreviventes sejam esventrados, acabando por ruir.

(1)Museu Monográfico da Cidade da Ammaia

Estão expostas peças da vida quotidiana das populações, que vão desde vidros a cerámicas. Uma parte deste espólio está no Museu Nacional de Arqueologia que, em conjunto com o Museu Monográfico da Ammaia constituem uma das mais importantes colecções de vidros romanos procedentes de um só local da Península Ibérica.

(2)Museu Municipal de Marvão - Arqueologia

A presença romana está bem testemunhada no Museu Municipal pelas cerâmicas, metais, vidros e documentos epigráficos. As escavações efectuadas na necrópole romana da Herdade dos Pombais e a Cidade Romana de Ammaia, foram as principais fontes do esp�óio exposto.

Localização: Igreja de Santa Maria
Morada: Largo de Santa Maria, Marvão

Fontes:

Fundação Cidade de Ammaia
(info: http://128934ed.110mb.com/)
MUNICIPIUM DE AMMAIA, PATRIMÓNIO ROMANO NO NORDESTE ALENTEJANO de Maria de Lourdes C. Tavares
(info: http://cienciasdonossotempo.no.sapo.pt/cidade_de_ammaia.htm )
Projecto Radiopast em Ammaia
(Info: http://www2.radiopast.eu/?page_id=390)
A Cidade Romana de Ammaia - Escavaçõees Arqueológicas 2000-2006 (2009)
Edições Colibri, Autoria: Sérgio Pereira
Câmara Municipal de Marvão - Cidade de Ammaia
Autor : Jorge de Oliveira
Cidade e foro na Lusitânia Romana. Mérida, 2009
"Ammaia e Civitas Igaeditanorum. Dois espaços forenses lusitanos."
Autor: VASCO GIL MANTAS
(info: https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/bitstream/10316/13498/1/Vasco%20Gil%20Mantas%20-%20Ammaia%20e%20civitas%20Igaeditanorum.pdf)."
19
Out10

A LENDA DA CASINHA DAS BRUXAS EM TOLOSA

DELFOS

" Junto ao caminho velho que antigamente fazia a ligação entre Tolosa e Nisa, havia uma gruta, conhecida entre a população por "Casinha das bruxas".
Segundo a tradição, era ali que esses entes estranhos, tão enraizados na crendice popular, preparavam as suas incursões nocturnas.
Já noite adiantada, apareciam a cantar e dançar nas encruzilhadas dos caminhos, revelando uma histeria demoníaca.
Todo o povo andava aterrorizado.
As crianças andavam amedrontadas e o seu sono era povoado de sonhos terríficos.
Para pôr termo a esta situação, juntaram-se quatro rapazes valentes e resolutos, que não acreditavam em bruxas.
Pela calada da noite, sem que elas sentissem a sua chegada, surgiram inesperadamente entre as participantes na dança demoníaca. Ainda quiseram fugir, mas as mãos fortes e calorosas dos mancebos seguraram-nas como tenazes. Ali mesmo foram desmascaradas.
Foram depois conduzidas à "Casinha das Bruxas", onde permaneceram o resto da noite, sob forte vigilância.
No dia seguinte, em pleno dia, foram expostas na praça pública, sujeitas aos olhares e apupos da população indignada.
Envergonhadas e humilhadas por todos, essas mulheres depressa . abandonaram a povoação para sempre. Certamente aproveitaram a lição, para nunca mais brincarem às bruxas.
A calma voltou ao povoado.
Já  ninguém acreditava em bruxas.
Ao sono das crianças a tranquilidade regressou. "
in "PEQUENA MONOGRAFIA DE TOLOSA /  ALZIRA MARIA FILIPE LEITÂO"

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