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A TERRA do ALTO ALENTEJO

A TERRA do ALTO ALENTEJO

08
Abr11

A ORDEM MILITAR DO HOSPITAL EM AREZ

DELFOS
 
A Ordem do Hospital, desde o momento que chega ao Condado Portucalense, cumpre a sua função assistencial, como prova a doação feita em seu benefício, em 1145, pelo arcebispo de Braga, do hospital edificado por Pedro Ourives e respectivos bens situados em Braga.

 
A reforçar esta situação, cinco anos mais tarde, Pedro Ourives doou ao prior a Igreja de S. João, o cemitério e certas casas existentes nos subúrbios da referida cidade. Aliás, parece-nos correcto reconhecer na doação de 1145 o papel concreto que a Ordem desempenhava ao nível sóciocaritativo de apoio aos peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela, e de que Leça do Balio era uma base de apoio, como indica o próprio traçado viário da altura.

 
Assim parece plausível que a prossecução deste programa assistencial tenha sido um parâmetro importante no processo de implantação da Ordem em Portugal, nomeadamente na sua primeira instalação em Leça.

Por outro lado, a inserção destes freires num projecto concertado de actuação militar aguardou pelo final do séc. XIII.Este processo tem lugar, pelo menos, em 1194, ano em que D. Sancho I doa aos freires a terra de Guinditesta, impondo-lhes a obrigação de construírem o castelo de Belver, no contexto dos desastrosos anos de 1190-91 para as tropas cristãs no domínio da Reconquista.

 
Com esta atitude, o monarca revela que acredita no potencial militar desses indivíduos e na sua correspondente capacidade de povoamento do território.
Não tardará o reforço deste núcleo de implantação hospitalária, já que em 1232, a Ordem recebe o Crato, com a obrigação de os freires povoarem e amuralharem este local, o que lhes irá permitir, anos mais tarde, ali instalar a sua casa conventual e reforçar a sua presença nesta zona. Em termos objectivos, a manifestação do exercício das duas funções primordiais dos freires de S. João de  Jerusalém, recordamos, assistência e prática das armas, materializa-se nas doações de Leça e de Belver.

 
A primeira, como matriz da prestação de cuidados assistenciais, no âmbito da peregrinação a Santiago de Compostela, e a segunda, como padrão de um comportamento militar, no contexto da cruzada e da reconquista.
Será, pois, no final do séc. XII que o ramo português da Ordem do Hospital assume a sua militar, o que se coaduna com a obrigação de os elementos que pretendem ingressar responderem, pelo menos a partir de agora, a critérios ligados à actividade bélica.

 
Para além das armas, a Ordem apresentava-se por várias outras razões, como uma opção estratégica para alguns sectores da nobreza portuguesa.
De um modo geral, as Ordens Militares são potencialmente atractivos para a aristocracia, como tem sido sublinhado.

 
Assim, no caso concreto dos Hospitalários, podem ser aduzidas razões como prestígio de ser uma instituição supranacional com origem na Terra Santa e no ambiente de cruzada, o aliciante que constituía a prática da virtude da caridade e da hospitalidade, o potencial que a Ordem tinha de sufragar as almas dos seus professos e mesmo o usufruto de um leque de privilégios papais e reais por parte dos que a ela aderissem.
A base patrimonial e jurisdicional da Ordem e a correspondente gestão destes bens e direitos por parte dos comendadores, com a organização das suas casas senhoriais e respectivas redes clientelares, são razões que se juntam ao leque de vantagens que a nobreza tem em se aliar a este projecto.
 
No plano religioso, as Ordens Militares podem oferecer soluções atractivas, quando interpretadas à luz do seu tempo.
Se as ordens apresentam vectores que são comuns a outras instituições de perfil distinto, como o sufrágio das almas dos benfeitores ou das dos seus parentes mais próximos, elas significam também a aproximação a Deus através de Jesus Cristo, concretizada pela conquista dos lugares santos, no ideal de cruzada, tão emblemático nos séculos XII e XIII.
 
 
Também o facto do primeiro superior hierárquico desta instituição nascida em Jerusalém ser um cavaleiro franco, que notabiliza no contexto da cruzada, e de a dignidade de grão-mestre ter sido titulada por D. Afonso de Portugal (1203-1206), filho de D. Afonso Henriques, poderá ter sido um estímulo à adesão à Ordem, por parte de alguns elementos da nobreza portuguesa, sustentando um padrão de exigência nobiliárquica, que se terá mantido e até aperfeiçoado em décadas posteriores.
 
 
A figura de D. Afonso terá congregado os interesses de alguns aristocratas portugueses, que procuram na Ordem uma aura de prestígio e de identificação com o poder real de início de Duzentos. Esta constatação poderá ser um elemento explicativo para o facto de a cavalaria religiosa se apresentar como um modelo de vida para alguns destes indivíduos, que viam o seu património familiar a tornar-se cada vez mais espartilhado, conseguindo, desta forma, encontrar no património das Ordens Militares um reforço das suas estratégias de poder.
 
 
Após analisarmos as áreas de implantação das diferentes famílias nobres e a lista de comendas da Ordem do Hospital e os seus respectivos titulares, verificamos que é possível estabelecer uma relação entre as zonas de implantação das diferentes casas senhoriais e a titulatura de algumas dignidades por parte de certos Hospitalários pode revestir de uma coincidência territorial, em outros está patente uma proximidade geográfica, que está na base das actuações em áreas limítrofes ás da família de onde provém esses indivíduos.
 
 
Assim, é possível afirmar que a Ordem viabiliza as estratégias de poderplurifacetado destas famílias, no sentido da consolidação ou ascensão, tanto a nível social como económico.
 
 
Sancho I, 1194, profundamente ligada ao evoluir da reconquista no início desta década, e reforçada no séc. XIII, pela concessão do lugar do Crato, constituem atitudes que estimulam a deslocação para as terras da Beira e do Alto Alentejo.
 
 
Este percurso poderá ser sintomático de um potencial militar ligado à concretização da cruzada, de uma necessidade destes cavaleiros se dedicarem à guerra como meio de acumular riqueza e até um eco da aproximação da Ordem à coroa, tanto mais que está maioritariamente ligada a linhagens não directamente associadas ao meio cortesão.
 
 
Pedro evidencia uma atitude inovadora na associação entre a cavalaria hispânica e os elementos das Ordens Militares, conferindo um grande destaque ao prior Hospitalário Álvaro Gonçalves Pereira, que pode ser entendido como um corolário de uma evolução da ligação da nobreza á Ordem do Hospital.
 
 
Em termos gerais, o modelo da cavalaria religiosa seria atractivo para a nobreza, uma vez que constituía uma hipótese institucional de prática dasarmas e era uma opção que viabilizava uma actuação ao nível da administração de grandes domínios, com a possibilidade de manutenção das suas casas senhoriais.

 
"Arez da Idade Média à Idade Moderna: um estudo monográfico Leitão, Ana Cristina Encarnação Santos Tese de mestrado em História Regional e Local apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2008 http://catalogo.ul.pt/F/?func=item global&doc_library=ULB01&type=03&doc_number=000546695

http://hdl.handle.net/10451/1738"
Hoje meus caros lhe começamos por lhe dar a ORDEM DO HOSPITAL nas terras de Arez. Estas Terras de Arez um dia vila, nas terras desta cosmopolita condado vila Nisa. Mas ela lhe sugere que a terra é mesmo plana e curva ela o não tem. Um dia, apenas se imagina ela...

Mas o tema é muita vasto meus caros do pouco que existe e se é encontrado na zona. Tem assim algumas palavrinhas que se gostava de as descolar...
 
A ver vamos.
Vamos lá a ver se conseguimos voltar com outro post sobre o tema.
 
Se tal não se conseguir, é porque é mesmo muita difícil viver no concelho de Gavião.
A coisa não se faz e ainda se bloqueia o que existe...
 
07
Fev11

AREZ EM 28 DE ABRIL DE 1758

DELFOS
O que posso informar sobre os interrogatórios que sua Magestade foy servido remeter a vossa excelência a respeito do que se procura saber desta villa de Arez, respondo a cada interrogatório pellos seus números, o que alludy o hé da forma seguintes:
1,º Fica esta villa de Arez em a província de Alentejo no Bispado e Comarca de Portalegre. He uma só freguesia, nem pertence a outra alguma, nem termo seu.
2.º Hé del rey.
3.º Tem oitenta vizinhos, os quais contam de cento e noventa e duas pessoas mayores, trinta e quatro menores com cincoenta e dous ennocentes.
4,º Está situada em hum pequeno alto do qual se nam descobre povoaçam alguma.
5.º O termo hé seu e nam comprehende lugar nem aldeya alguma.
6.º A paroquia está fora da villa porem chegada ás ruas da mesma de sorte que algumas acabam ao pé da igreja e nam tem a freguezia lugar ou aldeya que lhe pertença.
7.º O seu órago hé Nossa Senhora da Graça, tem três altares, o mor em que está o Santíssimo Sacramento e a imagem da dita senhora e a de sam joam Baptista. Dous collaterais, o da parte do Envagelho, hé da Senhora do Rosário e nelle está a imagem da mesma senhora, mais outra imagem com a senhora com o titulo dos Remédios, e outra do glorioso mártir Santo Sebastião. O da parte da Epístolla tem três imagens uma do glorio Apóstollo sam Pedro, outro do glorioso sam Francisco, e da outra da gloriosa santa Luzia, este altar tem o titollo das almas porem he ornado do que queira, pella confraria do Santíssimo Sacramento. Tem três Irmandades, huma do Santíssimo Sacramento, outra da Confraria da Senhora do Rosário e outra da Confraria das Almas, as quais cada huma he administrada por hum reytor, escrivam, thesoureiro, dous mordomos que todos os annos sam eleyttos e servem os que sahem a mais votos. Nam tem Naves.
8.º O Párocho hé vigário, freyre professo da militar Ordem de Christo apresentando a el rey Nosso Senhor como Gran mestre que he das três ordens militares e as suas ordenações se lhe expedem do tribunal da Mesa da cosnciência E Ordens e afirmadas Pello ditto senhor. Tem de renda em cada hum anno três moyos de trigo vinte mil réis em dinheyro, e sincoenta e dous almudes de vinho, e vinte e quatro arratéis de cera fina obrada com obrigaçam de dar a meyo nosso cura para as funções da igreja pertencentes ao parocho.


Nam tem Beneficiados e somente tem hum thesoureiro, clérigo in minoribus, digo clérigo do habitto de Sam Pedro a apresentado pello tribunal da mesa da Comarca e Ordens, tem de renda em cada hum anno hum moyo de trigo, seis alqueires, vinte seis almudes de vinho com obrigaçam de dar vinho e hóstias para as missas que se dizem na igreja, tem mais vinte e quatro arratéis de cera fina com obrigaçam de dar meio anno a cera que se gastar nas missas e mais funçoens da igreja tem sam tem mais seis tostoens por hir buscar os santos Christo de Porttalegre, e hum cruzado e dous arratéis de sabão para a lavagem da roupa da Igreja e mais hum arratel de incenço para as funções da mesma igreja.

10º Nam tem Convento algum.

11º Nam tem hospital e somente huma casa casa térrea a que chamam Hospital, mas nam tem camas, nem paramento algum, e na ditta caza se acomodam alguns pobres, passajeiros porem sustemtam das esmollas, que os fiéis christoens lhe dam e de algumas que lhe dá a Irmandade da Misericórdia de quem sam as dittas cazas. Nam tem administrador nem renda alguma.

12º Tem Irmandade da Misericórdia hé esta na Ermida do Divino Espírito Santo porem nem se sabe qual foy a sua origem por nam haver livros antigos que procedam como também os da igreja quando o inimigo invadiu este reyno, e entrou em esta villa o anno de mil septecentos e quatro, e dos livros e dos livros que he desde esse tempo a esta parte nam consta cousa alguma e tem a ditta Misericórdia de renda annual reportaos huns annos por outros quatorze mil rés e em qualquer destas couzas nam há cousa notável.

13º Tem duas ermidas, huma do Divino Espírito Santo em a qual faley no interrogatório assima próximo e tem trêsaltares. O principal tem a imagem do mesmo Divino Espirito Santo e o da parte do Envagelho tem a imagem do glorioso santo amaro e o da parte da epístolla tem a imagem do senhor crucificado e está a dita ermida com as portas dentro da villa, e hé administrada pelo provedor e mais irmãos da Misericórdia. Tem outra Ermida do glorioso Santo António que dista desta villa hum quarto de légua e tem somente hum altar com a imagem do mesmo sancto e hé administrada por hum reytor, escrivam, thesoureiro e dous irmãos que todos os annos se elegem.

14º Nam tem romagens em dias certos mas alguns devotos em dias incertos lhe vam fazer romarias.

15º Os moradores desta villa os fructos que recolhem hé de centeyo com alguma abundância, trigo, vinho e azeyte destes três fructos pouco.

16º Tem dous juízes ordinários e camera que consta de juiz dous vereadores, hum procurador e escrivam da camera e nam tem sujeiçam de outra terra.

17º Nam há que dizer a este.

18º Nam há memória de em este se refere e só sahio desta terra o Doutor Miguel Loppes Caldeyra Provedor da Comarca de Évora com beca de Desembargador.

19º Nam há que dizer a este.

20º Nam tem correyo, e se serve pello estafetta da vila de Niza que dista desta quatro légoas e vai levar as cartas desde a cidade de Portalegre que dista seis léguas de huma e doutra villa e as torna a ir buscar no Sábado e no Domingo com ellas.

21º Fica esta villa distante da Cidade de Portalegre, cappital do Bispado, seis légoas e da de Lisboa cappital do reyno trinta e huma légoas.

22º Nam há privilégios nem anteguidades nem couzas dignas de memória.

23º Nam há que dizer a este.

24º Nem a este.

25º _______________________________________________ // ____________________________________________
Nem a este, nem a vigessimo seisto nem septimo.
O que se procura saber d´essa serra he o seguinte:
Enquanto aos interrogatórios de Serra nam tenho que informar pello nam haver no termo desta villa.
______________________________________________ // _____________________________________________
O que se procura saber do Rio d´essa terra he o seguinte:
As questões aos interrogatórios de rios respondo pella ordem delles digo:


Nam tem esta villa e seu termorio notável algum, somente passa pello seu termo huma pequena ribeyra chamada Figueiró que nasce no sítio da courella entre os termos de Alpalham e Castello de Vide e finda no rio Tejo em o sitio dos Oleyros, entre os termos de Vila Flor e Amieyra.

Nam hé a ditta ribeyra caudelosa nem percorre seca no veram.

Nam há que dizer a este.

Nem a este.

Hé a ditta ribeyra de Curso quietto, e nam experimenta arrebatada só quando há alguma tempestade ou invernada grande.

Corre de Nascente a poente.

Cria alguns peixes miúdos, que se costumam pescar lá à cana, são chamados huns Barbos, outros Bordalos e outras pardelhas.

As pescarias se fazem por divertimento quando cada hum quer.

Sam livres as pescarias.

10º As margens da ribeyra se costumam lavrar e semear de pam e nam tem arvoredos.

11º Nam há que dizer a este.

12º Conserva sempre o mesmo nome.

13º Morre em o rio Tejo já ditto em primeiro interrogatório.

14º Nam há que dizer deste.

15º Tem hum pontam de pás com os alicerces de pedra, em o sítio chamado da Nave no termo desta villa.

16º Na mesma ribeyra e termo desta villa está hum lagar de azeyte em o sitio chamado da Billa e dous moinhos, em o sitio chamado o fundo do valle longo e outro em o sítio chamado da Vergeira.

17º Nam há que dizer a este.

18º Hé livre o uso das suas ágoas

19º Tem a ditta ribeyra de comprimento três légoas, pouco mais ou menos passa em pouca distancia da villa de Nisa, e dista desta um quarto de légoa.

20º Nam há que dizer a este. He o que posso informar e dizer sobre os interrogatórios.

Arez, 28 de Abril de 1758

O vigário Frei Paulo Braz Giraldes
Tese de mestrado em História Regional e Local apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2008
URI: http://catalogo.ul.pt/F/?func=item-global&doc_library=ULB01&type=03&doc_number=000546695
http://hdl.handle.net/10451/1738



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