De traça seiscentista, é um imóvel de pequenas dimensões, sóbrio, sem mais ornamentos do que o campanário que se ergue na frontaria. É dedicada a S. João Evangelista
Nos anos quarenta, na sequência das obras de restauro, foram encontradas duas aras: uma sem referir a divindade, e a outra dedicada ao deus Banda Picius. Este facto originou a hipótese da capela se erguer sobre um local de culto muito mais remoto, que foi assim cristanizado.
Mais uma vez os marotos, o Rogério Pires Carvalho e João Luís Carvalho me estiveram a chatear a cabeça para eu acabar o registo, o seu "Contribuição para a carta arqueológica da freguesia de Belver", uma freguesia pertencente ao concelho de Gavião. Na nossa pequena conversa me estiveram dizendo "Este trabalho não pretende ser um estudo completo e exaustivo, muito longe disso, mais não é do que um acervo das informações de que presentemente dispomos e que representam um ano de investigação e trabalho. Só o estudo das diferentes estações arqueológicas, aqui referidas, poderá adiantar novos elementos para um melhor conhecimento do passado desta região - o blog pensa que ela sempre teve muita vida e que sempre existiu no mundo - de profundos contrastes que é afinal o Tejo. Integrada nesta área geográfica, a freguesia de Belver regista níveis de povoamento mais ou menos intensos, evidenciando estratégias de ocupações diferenciadas e diferentes, consoante as diferentes épocas a que se reportam. Para preservar estes registos, que ignorância ou incúrias por vezes irremediavelmente detroem, julgamos ser urgente um trabalho sistemático e criterioso, tendente à elaboração de uma Carta Arqueológica local."
Vou terminar. Vou apenas dizer que os Senhores do Instituto do Emprego e Formação Profissional dizem que são as entidades é que escolhem as pessoas.. Ao questionar as entidades que escolhem as pessoas, elas dizem que são os Senhores do Instituto do Emprego e Formação Profissional de Ponte de Sôr é que escolhem as pessoas... Quatro anos ao alto, a viver um mundo numa globalização tremenda e numa concorrência feroz "e se vires alguém com fome. Não lhe ofereças um peixe. Ensina-o apenas a pescar"não é ter as mesmas oportunidades neste concelho - não dá peixe e nem ensina a pescar", é apenas dizer que parece que este ano, este ano europeu não é um ano dedicada a uma igualdade e novas oportunidades e logo num concelho que se diz. que é rosa e vai para quatro anos a viver só com o seu pai.
“Arez/RN e sua Etimologia: Origem e Significado Obscuros da Toponímia”
André Valério Sales[1] A “pequenina Arez” potiguar é uma cidade “doce, silenciosa, acolhedora, com seu ar amável de estação de cura” (Câmara Cascudo, 1946).
1. Introdução: Esse texto apresenta um estudo etimológico sobre a origem e a significação do nome de Arez, município do Rio Grande do Norte. Logo à partida, devo esclarecer que conhecemos dois lugares que possuem o nome de Arez, ambos escritos exatamente da mesma forma: I) Em Portugal, existe o pequeno povoado de Arez, que faz parte do município de Nisa, no Distrito de Portalegre (Alto Alentejo). Com apenas cerca de 360 habitantes, a Arez lusitana é apenas uma freguesia de Nisa. O mais antigo documento histórico conhecido a citar o nome daquele povoado, o Foral de Marvão – datado de 1226 –, demonstra que o topônimo era então escrito como sendo Ares, com a letra /s/ no final. II) E também existe aqui, no Brasil, um município que foi denominado Arez, desde 1760, numa homenagem prestada àquela pequenina freguesia lusitana por ordem do Marquês de Pombal; localizado no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, possui cerca de 12.700 habitantes (IBGE, 2010). Por estar distante da principal rodovia federal que lhe dá acesso, a BR-101, e por ser um pouco afastada das magníficas praias de nosso litoral, a Arez potiguar sempre teve um lento desenvolvimento econômico e turístico, com seu ritmo próprio e incomparável aos demais municípios vizinhos, como, por exemplo: Tibau do Sul, que é privilegiado por ser detentor de belas e famosas praias; e São José de Mipibu, que está às margens da BR-101 e tem uma população quatro vezes maior que a de Arez. Aproveito então esse espaço para convidar aos leitores a virem conhecer, em nossa Arez, o Frontal do Cemitério Histórico (de 1882), tombado pelo IPHAN como Patrimônio Histórico Nacional (Turismo Religioso); que venham conhecer a Ilha dos Flamengos, habitada pelos holandeses que invadiram Arez entre 1634 e 1652 (Ecoturismo)[2]; e que venham participar de nossas grandes Festas Populares: em junho (festa do padroeiro, São João) e dezembro (festa da padroeira), além de conhecerem os famosos bordados de Labirinto produzidos na cidade, e usufruírem das delícias de nossas comidas típicas (TurismoFolclórico), etc. E mais: procurando sem pressa, os turistas vão achar, sim, ainda que pequenos e acolhedores, restaurantes e pousadas em Arez. Em sua avaliação sobre os atrativos turísticos desse município, a escritora Anna Maria Cascudo (1972: 15) afirma que as “possibilidades turísticas [de Arez], hoje em dia, se prendem mais à parte das suas imagens preciosas e monumentoshistóricos”. Particularmente sobre as estátuas dos 3 Reis Magos (do Século XVII), tombadas como Patrimônio Histórico Nacional – abrigadas na Igreja de São João Batista –, ela ressalta que “são famosas pela sua beleza” e que “são dignas de visita”.
2. Sobre a origem do nome Arez:
Por que a cidade é chamada de Arez?
Em relação a esse antigo problema de Etimologia[3], como é comum na atualidade recorrer-se imediatamente à Internet, devo esclarecer que na Wikipédia, uma inusitada “enciclopédia” virtual de construção coletiva, encontramos o nome de Arez grafado de duas maneiras diferentes, ainda que ele seja escrito da mesma forma tanto em Portugal quanto no Brasil: a) Existe o verbete intitulado AREZ, com a letra /z/ no final, referindo-se apenas à pequenina freguesia localizada em Portugal (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arez). Nesse site, descobrimos que a Arez portuguesa é um povoado situado oficialmente no município de Nisa, desde 1836, e que possui 362 habitantes (dados de 2001); Nisa, por sua vez, pertence ao Distrito de Portalegre, na sub-região do Alto Alentejo. b) Ao mesmo tempo, encontramos também naquela “enciclopédia” virtual um verbete que trata especificamente da nossa Arez potiguar, o pequeno município do Rio Grande do Norte aqui em questão (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ar%C3%AAs), no entanto, ainda que sejam palavras homônimas, a Wikipédia escreve o nome de nossa Arez brasileira de forma errada, grafando-a como ARÊS, com /s/ no final e acento circunflexo /^/ na letra /e/. Isto significa que para quem é adepto das “rápidas pesquisas” feitas via Internet, deve-se tomar cuidado com a veracidade das informações contidas na Wikipédia, pois, de acordo com o exemplo acima, notamos que ao invés de contribuir para tirar a dúvida, sobre a escrita do nome de Arez, o que aquela “enciclopédia” faz, na verdade, é confundir os leitores. Em termos de leis, podemos assegurar que segundo decisão da Câmara Municipal de nossa Arez, a potiguar, de acordo com uma emenda à Lei Orgânica do município (datada de 05/03/1993), o nome da cidade foi definitivamente oficializado, em nível municipal, como sendo AREZ, com /z/ ao final, da mesma forma como se escreve o nome da freguesia portuguesa, que foi aqui homenageada por ordem do Marquês de Pombal, como já citado. A referida emenda ainda dispõe que “deverão ser notificados todos os órgãos de direito”, e está inclusive publicada no livro de João Alfredo de Lima, Anotações Sobre a História de Arez (2000: 29). Antes disso, em nível estadual, desde 29/03/1938 o Interventor Federal Rapahel Fernandes Gurjão (Decreto nº 457) já havia “elevado”, oficialmente, a “Villa de Arez” – escrita com /z/ no final –, à categoria de “cidade”. Quem entende um pouco da História do Rio Grande do Norte sabe que em 15 de junho de 1760, há 250 anos, por ordem de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), o Marquês de Pombal[4], um antijesuíta famoso, foi decido que aqui, neste nosso município, não haveria mais a “Missão de São João Batista de Guaraíras”, e sim, a Nova Villa de Arez, numa inexplicável homenagem ao pequeno povoado de Arez situado em Portugal. É importante observar que, desde aquela época, o nome do município potiguar já era escrito como sendo Arez, com /z/ no final (Livro de Tombo da Matriz de Nova Villa de Arez/RN, Registros de 01 e 04/08/1763)[5]. De acordo com Câmara Cascudo, alvarás régios de 1755 e 1758 “determinavam a substituição dos nomes nativos nas povoações [ocupadas pelos lusitanos] pelas denominações de localidades portuguesas” (1968: 162); as ordens vindas de Portugal eram taxativas: “Denominareis [as povoações ocupadas] com os nomes dos lugares e vilas destes Reinos, que bem vos parecer, sem atenção aos nomesbárbaros que têm atualmente” (id.: 181). No Rio Grande do Norte, a mesma mudança ocorreu, por exemplo, também com a Missão jesuíta/indígena de “São Miguel de Guajiru”, que passou a ser chamada de Estremoz (em 03/05/1760), homenageando, por sua vez, a cidade portuguesa de Estremoz, pertencente ao Distrito de Évora; sem rival até os dias atuais, a igreja da Aldeia de Guajiru, destruída com o passar dos anos, nas palavras de Cascudo era “o mais lindo templo barroco da Capitania” (1955: 111), “a mais linda igreja” que aqui já existiu (1968: 180). Afora a cidade do Natal, capital do Estado, que já existia com o título de “cidade” desde a sua fundação – em 25 de dezembro de 1599 –, foram então criados, por causa do Marquês de Pombal, os 3 primeiros municípios do Rio Grande do Norte: Estremoz, Arez e Portalegre (Cascudo, 1955: 111-112;1968: 162, 180), cujos nomes, seguindo as leis acima referidas, homenageiam a localidades portuguesas. No entanto, até hoje não se sabe o porquê da antiga Aldeia de Guaraíras ter sido rebatizada com o nome de Arez. Não se sabe o objetivo de tal homenagem. Por que, ao invés de se ter escolhido o nome de um Distrito lusitano (como no caso de Portalegre), ou de outra cidade qualquer (como Estremoz), alguém elegeu, para rebatizar aquela Missão indígena potiguar, o nome de uma pequena freguesia portuguesa? Fica aqui registrada essa idéia, visando a pesquisas futuras. Além dessa interessante questão, que exige uma investigação mais aprofundada, inclusive nos arquivos históricos portugueses, há ainda outra grande dúvida que remete a um problema cuja resposta, até hoje, continua obscura: qual é a origem ou o significado da palavra Arez?
3. Afinal, o que significa Arez?
Tanto a origem da palavra Arez é obscura quanto o seu significado; parece até mesmo que é impossível fixar seu étimo. Entretanto, existem várias hipóteses, entre plausíveis e implausíveis, acerca do significado desse nome. Aliás, há que se ressalvar que nem mesmo o célebre etimologista potiguar Câmara Cascudo teve êxito em suas pesquisas acerca da origem do topônimo[6]. Em seu livro Nomes da Terra, Cascudo descreve toda a História da mudança que houve na toponímia da antiga Missão de Guaraíras, rebatizada em 1760 como Arez, no entanto, em se tratando do significado do nome deste município potiguar, nota-se que aquele historiador não conseguiu defini-lo. Por exemplo, no referido livro, Cascudo (1968: 69-132) define os nomes de diversos povoados e Rios de Arez, como: Aranun, Baldum – nome de um Rio que, nas palavras do autor, “não é vocábulo indígena nem consegui identificá-lo” –, Cametá, Camucim, Dendê, Flamengo, Groaíras (atualmente Guaraíras), Irimuá (ou Limoal), Mangabeira, Nambutiú (atual Rio do Meio), Panguá, Papeba, Patané, Paturá e Urucará[7]; porém, o autor não revela que existissem nem mesmo hipóteses acerca da origem da palavra Arez. Isto somente vem a demonstrar como é bastante difícil o trabalho de etimologia que tento empreender no presente texto. Antes de apresentar as 5 hipóteses mais conhecidas na atualidade sobre a origem e o significado da palavra Arez, é preciso assinalar que não é obrigatório que nós tenhamos que acreditar ou apontar uma dessas hipóteses como sendo “a verdadeira”, como definindo “a verdade” dos fatos. Nesse caso, como é ainda um enigma a definição do nome de Arez, o mais importante é conhecer quais são as hipóteses existentes na literatura, compreendê-las, sem a pressuposição de que, necessariamente, deva existir “uma” que seja “a verdadeira”[8]. Ou seja, mesmo que ninguém chegue a comprovar a origem do nome Arez, e ainda que não haja resposta “única” e “verdadeira” para esse problema, devemos saber então quais são todas as possibilidades existentes acerca de seus prováveis significados. É preciso enfatizar, inclusive, que as cinco hipóteses analisadas a seguir são apenas suposições, e todas elas, igualmente, são carentes de comprovação pela via de fontes históricas.
As duas hipóteses levantadas pela Câmara Municipal de Nisa (Portugal):
Sobre a origem e significado da palavra Arez, duas interessantes hipóteses são levantadas pelo site da Câmara Municipal de Nisa (Portugal), município no qual se localiza o povoado de Arez, que publicou um texto contendo informações turísticas sobre aquela sua pequena freguesia (http://www.cm-nisa.pt/). A partir da leitura do referido escrito, fica claro, logo de antemão, que na própria Arez portuguesa não se sabe ao certo a origem da toponímia.
Citando a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o documento do Concelho de Nisa expõe as seguintes hipóteses acerca da gênese do nome Arez: 1) A palavra Arez – que também já foi escrita como Ares – poderia ter sido originada em referência aos bons “ares” do lugar. Porém, tal hipótese é imediatamente descartada, no próprio documento em questão, e tida como “inaceitável”. Particularmente, não tive tempo ainda de visitar a freguesia portuguesa de Arez, entretanto, até onde eu saiba, por meio de consulta a amigos que residem próximos àquele local, realmente são “bons” os ares daquele povoado. Sobre a possível validade dessa hipótese, é preciso esclarecer que de acordo com o Índice Toponímico do Concelho de Nisa, de Fernando Portugal (1964: 505), a mais antiga citação documental ao nome de Arez, como antes referido, encontra-se no Foral de Marvão, datado de 1226; foi nessa época, é interessante lembrar, que a língua portuguesa começou a ser escrita – “nos fins do século XII ou início do século XIII” (Azeredo, 2008: 393). Segundo o Foral citado, descobrimos que naqueles primeiros anos do Século XIII o nome do povoado era escrito como sendo “Ares”, com a letra /s/ no final, o que pode muito bem significar que a Arez lusitana tenha sido, sim, batizada numa referência aos seus “bons” ares! Porém, essa hipótese, como todas as demais, não possui comprovação embasada em fontes históricas. É também a partir do Foral de Marvão que se pode inclusive levantar outra hipótese, como analisarei mais adiante: a de que o nome da Arez portuguesa também pode ter sido dado em homenagem ao deus grego da guerra: Ares. 2) Outra hipótese, também apontada pela Câmara de Nisa, é que o nome de Arez poderia ser uma homenagem a um dos mais importantes deuses da época pré-romana: Arêncio (ou Arentius), e que da palavra Arentius, por corruptela, teria nascido o topônimo Arez (ou Ares). Na antiguidade, quando Portugal – tal como conhecemos hoje – ainda não existia, e aquelas terras da Península Ibérica eram chamadas de Lusitânia, sabemos que imperava então um rico politeísmo. Os arqueólogos Salvado, Rosa e Guerra, em seu texto Um Monumento Votivo a Arância e Arâncio, Proveniente de Castelejo (2004: 237-242), demonstram com seus estudos que havia naquela região central de Portugal, um pouco mais ao norte do povoado de Arez, um culto ao casal divino Arêncio e Arência (ou Arentius e Arentia), e não apenas a Arêncio em particular, comprovado por meio de escritos em monumentos votivos – inscrições gravadas em pedras, como agradecimento a promessas cumpridas pelos deuses. Há que se ressaltar que essas “aras votivas” datam já do período pós-romano, pois antes da ocupação romana na Lusitânia, as tradições religiosas eram repassadas às gerações futuras apenas pela via da oralidade, ou seja, foi somente depois da chegada dos romanos na Península Ibérica que começaram a existir inscrições epigráficas relativas aos deuses lusitanos. Os arqueólogos citados revelam, sobre a existência de comprovação histórica do culto ao par divino Arêncio e Arência, através da epigrafia, que: “a distribuição destes nomes de divindade circunscreve-se à zona centro interior portuguesa, registrando-se ocorrências [feitas por especialistas] em Zebras, Fundão”, Ferro, Covilhã, Rosmaninhal, Monsanto, Idanha-a-Nova, Ninho do Açor, Castelo Branco e Sabugal (Salvado et al., 2004: 239-240), além das localidades próximas de Moraleja e Cória, em região espanhola. Desse modo, é fato comprovado que não há referências ao culto aos deuses Arêncio e Arência na freguesia de Arez, nem na região do município ao qual pertence, Nisa, e nem mesmo em qualquer outro município do Distrito de Portalegre, no qual Nisa está localizada. Em se tratando, portanto, da hipótese de que o nome de Arez seria uma homenagem ao deus Arêncio, a partir do exposto anteriormente verifica-se que esta suposição é duvidosa e carente de comprovação nas fontes históricas atualmente disponíveis, tal como ocorre com as demais hipóteses aqui analisadas. No entanto, devemos enfatizar que a hipótese não pode ser declarada inválida, ainda que, até hoje, ninguém apresentou meios de confirmar a possibilidade de ela vir a ser verdadeira. Avalio essa hipótese como sendo um tanto quanto forçada, talvez até mesmo forjada, na atualidade, por estudiosos puristas, cultuadores das tentativas de resgate da história dos deuses de tempos pré-romanos. Esses estudiosos, talvez nostálgicos com tais cultos primitivos, enxergam referências àqueles deuses em todo espaço obscuro – ou ainda não explicado pela História lusitana – que dê margem a tais interpretações, e em se achando oportunidade para tal, como no caso do nome Arez, lançam suas hipóteses, ligando um tema ainda cercado de enigmas a possíveis referências aos deuses pré-romanos, provavelmente, na esperança de que suas suposições venham a se tornarem verdadeiras algum dia…
A hipótese apontada no verbete do município de Nisa, na Wikipédia:
Mais uma hipótese acerca da origem do nome Arez, que é bastante interessante, pode ser encontrada na Wikipédia, no verbete do município de Nisa (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nisa). De acordo com o texto ali exposto, a palavra Arez pode ter-se originado em virtude da ocupação francesa naquela região de Portugal, ocorrida no início dos anos 1200. Inclusive, das 5 hipóteses mais conhecidas e aqui avaliadas, esta me parece ser a mais plausível, ainda que não se possa considerá-la como sendo verdadeira. Partindo-se dessa hipótese, atribuída pelo documento ao pesquisador Carlos Cebola, naquele início do Século XIII colonos franceses passaram a habitar a região de Nisa (antigamente, chamada também de Nissa), atendendo à necessidade de fixar moradores naquela parte desabitada da Península Ibérica. Na medida em que fundavam seus povoados, batizavam-lhes com nomes de sua terra de origem, tal como ocorreu no caso de Nisa, que teria sido ocupada por colonos provenientes da cidade francesa de Nice, localizada no sul da França, próxima à fronteira com a Itália. A palavra Nice vem do grego (Nikaia), em italiano é grafada Nizza, e em provençal, antigo dialeto francês: Nissa. O mesmo ocorreu com a freguesia de Tolosa, também pertencente ao município de Nisa, que foi, provavelmente, fundada por ex-moradores da cidade francesa de Toulouse. E, por extensão, acreditam alguns estudiosos portugueses que o mesmo também teria acontecido com a freguesia de Arez (ou Ares), que teria sido edificada, segundo essa hipótese, por antigos moradores de Arles. As três localidades portuguesas citadas, Nisa, Tolosa e Arez, teriam sido batizadas, portanto, em homenagens a cidades do sul da França (Nice, Toulouse e Arles). No caso aqui em análise, para essa hipótese obter, pelo menos, alguma lógica, a palavra Arez teria que ser originária, por corruptela, do nome da cidade francesa de Arles. Da mesma forma que já explicamos anteriormente, sobre a suposição de que Arez viria do nome do deus Arêncio, afirmar que Arez seria proveniente da palavra Arles parece-me, também, uma proposta forçada. Não se questiona, por exemplo, que o nome do município português de Nisa (ou Nissa) seja proveniente da palavra francesa Nice. É inquestionável, também, que o povoado lusitano de Tolosa foi batizado em homenagem à cidade francesa de Toulouse, assim como, inclusive, há uma localidade chamada Tolosa na Espanha. No entanto, suponho que como não era possível explicar, com precisão, a origem do nome de Arez, alguém – em algum momento dessa História – decidiu lançar a hipótese, a partir dos exemplos de Nisa e Tolosa, de que a freguesia de Arez poderia ter sido, naquela mesma época, ocupada por ex-habitantes da cidade francesa de Arles, e, por extensão, esse alguém levantou a hipótese de que a palavra Arez seria uma homenagem a Arles. Surge daí a interessante indagação: sendo assim, por que Arez não foi batizada, então, com o nome de Arles, tal como Tolosa e Nisa? Não fica parecendo, mesmo, que é forçada a hipótese de que o nome de Arez (ou Ares) tenha a sua origem numa corruptela da palavra Arles? Recorrendo mais uma vez à sábia afirmação do etimologista potiguar Câmara Cascudo (2001a: 64): “as etimologias”, em sua ampla maioria, “são conjecturas que ficam sendo convenções”; e no caso dessa hipótese em questão, que atribui uma origem afrancesada ao nome de Arez, talvez esta seja uma teoria que já chegou a tornar-se uma “convenção” social, e inclusive, considero que é uma das suposições mais plausíveis para explicar o problema. Porém, deve-se lembrar que ela continua sendo apenas mais uma “conjectura”: é também uma hipótese tão carente de comprovação quanto as outras 4, aqui avaliadas.
A interessante hipótese de Cleudo Freire:
Saindo então dos domínios de textos sem autores devidamente reconhecidos, como no caso das duas primeiras hipóteses, levantadas no site da Câmara Municipal de Nisa (http://www.cm-nisa.pt/), e assim como a terceira, apontada no verbete do município de Nisa – na Wikipédia –, passo agora a analisar a admirável hipótese do escritor potiguar Cleudo Freire. De acordo com a interessante pesquisa etimológica realizada por Freire, exposta em seu artigo “Arez: O Nome da Terra” (O Poty, 02/09/2007), o significado do nome de Arez poderia ter origem na palavra Terra, tal como esta é grafada na língua hebraica: Há-Érets, referindo-se à “Terra Prometida” pelo Deus Javé ao povo judeu, nos tempos de Moisés e do Êxodo, cujo relato encontra-se no Antigo Testamento bíblico. Segundo Cleudo Freire: “há documentos que nos deixam a clara impressão de que [a] Arez [norte-rio-grandense] foi uma cidade que recebeu um grande número de degredados pela Inquisição”, e “tais documentos falam do envio de degredados àquela cidade, para cumprir pena inicial e obediência ao Cristianismo”. Esse autor ainda acrescenta que “não é difícil imaginar a que fé estes condenados pertenciam. Eram judeus apelidados pejorativamente pela igreja de Cristãos-Novos”, ou seja, eram sobretudo judeus portugueses, ou descendentes destes, forçadamente convertidos ao catolicismo. A partir disto, Freire levanta a hipótese de que aqueles novos moradores de Arez, em 1760, na ocasião proporcionada pelas diversas reformas encetadas pelo Marquês de Pombal, teriam influenciado no rebatismo da antiga Missão Jesuíta de São João Batista de Guaraíras com o nome de Nova Villa de Arez, homenageando a freguesia portuguesa de Arez (onde, na época, é possível que também residissem cristãos-novos), mas, principalmente, porque tal nome significaria Terra, na língua hebraica. Lembremos que, segundo os alvarás régios de 1755 e 1758, ficou determinado que os brasileiros fizessem “a substituição dos nomes nativos nas [sua] povoações”, toponímias geralmente indígenas, e por isso chamadas de “bárbaras”, por “nomes dos lugares e vilas’ de Portugal “que bem vos parecer” (Cascudo, 1968: 162, 181). A hipótese de Cleudo Freire, portanto, nos leva a relembrar a brilhante afirmação de Câmara Cascudo (2001a: 64), quando enfatiza que a maioria das tentativas dos etimologistas são apenas “conjecturas”, mas que podem vir a se tornarem “convenções” sociais: dependendo da “maior ou menor habilidade erudita” sustentadas pelo intelectual que as defende como verdadeiras. Nesse ponto, é válido repetir aqui algumas perguntas já feitas anteriormente: por que a antiga Aldeia de Guaraíras, no Rio Grande do Norte, foi rebatizada com o mesmo nome da Arez portuguesa? Qual o objetivo de tal homenagem? A quem interessava a escolha justamente desse nome? Por que alguém elegeu, para rebatizar aquela Missão jesuíta/indígena, o nome de um pequeno povoado lusitano – ao invés de ter escolhido o nome de qualquer outra cidade portuguesa importante ou de um Distrito? Considero a hipótese de Cleudo Freire muito bela, e acredito que ela pode vir ainda a ser, algum dia, provada como estando correta. No entanto, igualmente às outras 4 hipóteses aqui analisadas, a proposição freireana não pode ser admitida como verdadeira, por falta de comprovação documental, assim como, da mesma forma que as demais suposições, não pode ser descartada como falsa. Avaliando o exposto até aqui, com base em minhas pesquisas posso afirmar que: 1º) é inquestionável que o nome da Arez potiguar, assim rebatizada em 1760, homenageia a Arez portuguesa; 2º) também é verdadeiro que em 1226 este nome se escrevia Ares, com /s/ no final, o que é comprovado pelo Foral de Marvão (Índice Toponímico do Concelho de Nisa, Fernando Portugal, 1964: 505); 3º) é correto que em 1763, pelo menos aqui no Rio Grande do Norte, a palavra já era escrita como sendo Arez, com /z/ no final (Livro de Tombo da Matriz de Nova Villa de Arez/RN), da mesma forma que em 1938 (Decreto nº 457, assinado pelo Interventor Rapahel Gurjão), e até hoje (emenda nº 3, de 05/03/1993, à Lei Orgânica de Arez/RN). Isto significa que em algum momento dessa História, entre os anos de 1226 e 1763, o topônimo foi mudado de Ares para Arez. E isto, certamente, aconteceu ainda na Arez portuguesa, já que o nosso município potiguar já recebeu o nome de Arez, com /z/ no final, comprovadamente, desde que foi assim rebatizado, em 1760. Pode-se então deduzir, sem muito esforço, que uma pesquisa etimológica que venha a confirmar a origem da palavra Arez e, talvez, comprovar se a sua definição viria da palavra Terra (em hebraico, demonstrando-se uma possível influência judaica), somente pode ser empreendida estudando-se, em arquivos históricos de Portugal, a documentação que trate da Arez lusitana. Algumas importantes questões a serem respondidas por tal pesquisa são: quando se deu a mudança no nome daquele lugar, de Ares para Arez, que transformou completamente tanto a sua pronúncia quanto o seu significado? Qual foi o porquê de tal mudança? A quem interessava tal modificação? Deixo registradas aqui mais essas idéias, visando a investigações futuras… Por fim, é preciso reconhecer que a admirável hipótese de Cleudo Freire, sem dúvida alguma, nos oferece um riquíssimo tema para a investigação histórica, seja para pesquisadores do Brasil ou de Portugal, seja para os arezenses – potiguares ou lusitanos – interessados no resgate de suas origens. Inclusive, esse assunto do “exílio” forçado de “cristão-novos” em terras norte-rio-grandenses, e no Nordeste, de modo geral, vem sendo estudado com bastante entusiasmo na atualidade[9].
A hipótese de André Sales:
Partindo de minhas próprias pesquisas sobre a origem e o significado da palavra Arez, e tomando por base o Foral de Marvão, de 1226, o mais antigo documento histórico conhecido a citar o nome da Arez lusitana (Portugal, 1964: 505), escrito naquela época como sendo Ares (com /s/ no final), levanto então a hipótese de que o nome daquela pequena freguesia portuguesa pode ter sido uma homenagem ao mitológico Ares, o impiedoso deus grego da guerra[10]. Naqueles anos de 1220, o Ocidente encontrava-se em plena Idade Média; por essa época, a Igreja Católica era a proprietária de meia Europa, e já se preocupava com as heresias e fundava suas Inquisições, buscando destruir – em seus domínios – todas as formas de religiões diferentes, mulçumana, hebraica, etc. Dessa forma, sabemos que não interessava à Igreja Católica a difusão da cultura grega, considerada pagã, inclusive, os textos gregos eram proibidos, porque “sendo pagãos, poderiam pôr minhocas nas cabeças que a Igreja esforçava-se por cristianizar e manter cristianizadas” (Lajolo, 1982: 59). Da mesma maneira, pode-se afirmar que não interessava ao catolicismo, por exemplo, manter o nome da pequena freguesia de Arez, em Portugal, como uma homenagem a um deus grego (Ares). Assumindo-se essa hipótese como verdadeira, minha suposição é que ao invés de mudar o nome do lugar, o que talvez não viesse a apagar da cultura popular o costume adquirido pela tradição, optou-se então por mudar apenas uma letra daquele pequeno nome, transformando-se, desse modo, a sua fonação. Ou seja: com a trasladação do nome daquele povoado, de Ares para Arez, obtinha-se também uma mudança de fonação, de /Áres/ para /Arêz/, o que transforma completamente o sentido da palavra, fazendo-se surgir, assim, um nome novo, diferente (Arez), ao mesmo tempo em que se ocultava a referência a Ares, um deus pagão. No entanto, tal como as demais hipóteses, a minha também carece de comprovação documental, pois da mesma forma que não há provas, por exemplo, de que tenha havido o culto ao casal de deuses pré-romanos Arêncio e Arência naquela região – onde se encontra a Arez lusitana –, o que pode a vir a invalidar a hipótese de esta toponímia ser uma homenagem ao deus Arêncio, também não há provas de que o deus grego Ares tenha sido ali cultuado. Desse modo, igualmente às hipóteses anteriores, minha suposição nem pode ser declarada como sendo verdadeira e nem pode ser descartada, como estando errada. Talvez, como todas as conjecturas aqui avaliadas, essa hipótese pode também, algum dia, ser revelada como estando correta. A única alternativa que nos resta é esperar que, a partir de outras pesquisas, em breve apareçam provas concretas acerca do significado do nome daquela freguesia portuguesa e, em conseqüência, de nossa Arez norte-rio-grandense. Por fim, resumindo o exposto até aqui, pode-se também imaginar que, talvez, em algum momento dessa História, alguém tenha decidido alterar o nome do deus grego Ares para outra palavra, e dessa forma, mudando apenas uma letra, no final daquele nome – já que sabemos que Ares tornou-se Arez –, teria também transformado o seu sentido; e essa idéia, note-se, pode ter partido tanto de pessoas de origem católica, contrárias a homenagem feita a um deus pagão, quanto de habitantes de origem judaica. Ou seja: a antiga referência a um deus da guerra (Ares) teria sido então, com a mudança de somente uma letra, trasladada para uma bela palavra hebraica (Há-Érets: Terra, Arez), segundo a hipótese levantada por Cleudo Freire, numa homenagem à “Terra Prometida”.
4. Conclusão:
Para concluir o assunto, é preciso ainda ressalvar que a mudança ocorrida na escrita do nome de Arez – mexendo-se em apenas uma letra (de Ares para Arez) e transformando inclusive o seu significado –, que se deu em algum tempo da História ainda desconhecido, pode também ter acontecido por uma mera coincidência, por uma mera convenção socialmente imposta, advinda da forma mais comum das pessoas escreverem a palavra (que seria usando-se mais o /z/ no final). É necessário, portanto, levar em consideração, também, a hipótese de que talvez não tenha havido, nesse caso, nenhum interesse (político ou religioso) por trás dessa mudança etimológica… Devo concluir então, para não ser acusado de ter esquecido alguma outra hipótese, lembrando que o escritor potiguar João Alfredo de Lima Neto, em seu livro Anotações Sobre a História de Arez, lançou a proposição de que o nome Arez: “Significa dente do mestre, supõe-se alguma divindade remotíssima” (2000: 29). No entanto, esse autor não cita a fonte documental da qual teria retirado tal suposição, o que torna a sua conjectura não inválida, mas, carente de comprovação histórica; ou seja, até hoje, ninguém apresentou meios de confirmar se esta proposição tem alguma lógica que, pelo menos, a sustente como uma hipótese válida para análise.
5. Referências:
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[1] Escritor, estudioso da História e da Cultura de Arez, tem bacharelado e mestrado em Serviço Social. Atualmente, é assessor de cultura do Prefeito Municipal (Dr. Erço Paiva), assistente social da zona rural de Arez e sócio efetivo da União Brasileira de Escritores (UBE/RN). [2] Os mais importantes trabalhos que versam sobre a ocupação holandesa no Nordeste do Brasil são: o livro de José Antônio Gonsalves de Mello, Tempo dos Flamengos (2001), e o de Câmara Cascudo, Geografia do Brasil Holandês (1956), verdadeiros clássicos acerca do tema; de Evaldo Cabral de Mello: RubroVeio (1997) e Olinda Restaurada (1998). Especificamente sobre a invasão neerlandesa no Rio Grande do Norte, e sempre fazendo referências à Ilha dos Flamengos, em Arez, pode-se consultar: Os Holandeses no Rio Grande do Norte, de Câmara Cascudo (1949); de Olavo de Medeiros Filho: Os Holandeses na Capitania do Rio Grande (1998) e “Os Primórdios da História de Arez” (2003); e de André Sales, Câmara Cascudo: O que é Folclore, Lenda, Mito e a Presença Lendária dos Holandeses no Brasil (2007). [3]Etimologia é o estudo da origem e da evolução das palavras, em diferentes estados anteriores da língua, quer na forma mais antiga conhecida, quer em alguma etapa de sua evolução, até chegar ao étimo: o termo que serve de base para a formação de uma palavra – pode ser uma forma antiga, do mesmo idioma ou de outro, de que se origina a forma recente (Houaiss, 2009: 847). [4] Durante o reinado de Dom José I, o Marquês de Pombal foi – entre os anos de 1750 e 1777 – o onipotente Secretário de Estado do Reino, uma espécie de “Primeiro Ministro”. Unindo monarquia absolutista e racionalismo iluminista, Pombal foi um importante personagem de nossa História porque: provocou a expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias, em 1759, incluindo-se aí o Brasil, transformando as antigas missões indígenas em Vilas (tal como ocorreu na Arez potiguar); transferiu então o sistema de ensino das mãos da Igreja para a responsabilidade de professores leigos; extinguiu o regime de Capitanias Hereditárias no Brasil (em 1759); mudou a capital da Colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763; e ajudou na extinção da Inquisição no império português, proibindo a prática dos “autos de fé” e a discriminação aos cristãos-novos (Franchini Neto, 1981), ainda que a Inquisição portuguesa só tenha sido definitivamente extinta em 1821. Mesmo sendo o resultado de ordens régias anteriores, datadas de 1536, o Tribunal do “Santo” Ofício foi “definitivamente estabelecido” em Portugal no ano de 1547 (Novinsky, 1994: 36; Cascudo, 2001b: 90), tendo alcançado também o Brasil, de 1591 em diante, inicialmente na Bahia e em Pernambuco. O livro de instruções fundamental era o Monitório do Inquisidor Geral, escrito em 1536 por D. Diogo da Silva, tendo se tornado, nas palavras de Cascudo (2001b: 92): “o código orientador das denúncias e confissões”. [5] Apenas a título de esclarecimento, os primeiros registros documentais conhecidos que tratam do povoamento da Arez potiguar, datados de 1605, atestam que naquela época já habitavam aqui os indígenas da Aldeia de Jacumaúma, de língua Tupi. No Traslado do Auto da Repartição das Terras da Capitania do Rio Grande (1909: 44, 73), encontram-se inscritas as duas primeiras datas de terras doadas na região de Arez a pessoas de origem européia: a de n° 86, foi concedida pelo Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque, em 11/10/1605, ao português Domingos Sirgo; o registro faz referência ao “pacoval [bananeiral] de Jacumahuma”, perto do Rio Jacryhu (atual Rio Jacu). Como Domingos Sirgo “nunca fez benfeitorias” nas terras, em 1614 essa data de terra havia sido devolvida e já estava então doada às filhas de Manuel Rodrigues de Souza Forte, servindo para “gados e mantimentos”. Também o registro da data de terra n° 181, concedida pelo Capitão-Mor Francisco Caldeira de Castelo Branco, em 11/12/1613, ao mesmo Manuel Rodrigues – para “pastos e roças, e canas” –, cita também a existência, nas proximidades, da Aldeia de Jacumahuba. [6] As habilidades etimologistas de Câmara Cascudo são incontestáveis, e há exemplos espalhados por toda a sua erudita obra: como ocorre em seu interessante livro Made in África (de 1965), que é um trabalho eminentemente de etnografia, no qual o autor expõe diversos pontos de contato entre a cultura popular brasileira e a africana, mas que também demonstra as preocupações de Cascudo com a origem e o significado das palavras, percorrendo em suas análises, inclusive, diversos idiomas; também serve de exemplo o seu Ensaios de Etnografia Brasileira (de 1971). Já o livro Nomes da Terra, de 1968, é um verdadeiro “Tratado” de Etimologia norte-rio-grandense. [7] Em 1647, Gaspar Barléu publicou seu famoso livro História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil, no qual está incluído um exuberante mapa da geografia do Nordeste durante a ocupação holandesa (1630-1654), de autoria do cartógrafo Jorge Marcgrave, desenhado em 1643 – ornamentado com gravuras do jovem pintor holandês Frans Post. Registrados nesse mapa, encontramos alguns lugares da Arez potiguar, tais como: a Aldeia Aranum (grafada como Araunu), a Lagoa de Guaraíras (Guiraraíra), o Rio Limoal (Irimuá), o Rio Urucará (Uricará) e o Rio do Meio (Nambutiú). Evaldo Cabral de Mello (1997: 46) já chamou a atenção para a “grafia estropiada” da toponímia nordestina tal como era escrita pelos holandeses, e incorporada à sua “rica cartografia”. Reproduções de trechos do Mapa de Marcgrave, onde aparecem com clareza os pontos de Arez citados, podem ser vistos em: Gaspar Barléu (1974); Medeiros Filho (1989); e Lima Neto (2000). [8] Um dos exemplos mais famosos na área da etimologia, em se tratando de palavras de origem obscura, e da existência de várias hipóteses acerca de sua gênese, significado ou pronúncia, tal como ocorre como o nome de Arez, é que nunca se soube, nem jamais saberemos, como se falava o nome de Deus na época do Antigo Testamento bíblico, texto no qual o nome divino é citado em torno de 6.000 vezes. Neste caso, sabe-se apenas que a palavra era então representada pelas letras YHWH, porém, não existe “certeza” de como era a sua pronúncia no dia a dia dos hebreus, nem se sabe qual é o seu significado. Na atualidade, o normal é traduzir-se o nome de Deus como sendo Javé (Yahweh), ou Jeová, contudo, esta é uma convenção social. Como define Câmara Cascudo (2001a: 64): “As etimologias, em percentagem esmagadora, são conjecturasconvenções”. Já nas palavras do crítico shakespeariano Harold Bloom (2006: 151-152): Javé “é apenas uma conjectura, porque a tradição guardou o nome sagrado”. Ou seja, na contemporaneidade nós apenas imaginamos como se falava a palavra IHWH, que é apenas um pedaço, escrito, da palavra inteira, que era apenas falada. Bloom ainda complementa que “o significado do nome [Javé] é tão obscuro quanto a pronúncia”. No caso da palavra Arez, também não se sabe nem a sua origem e nem o seu significado, além dela ter mudado, com o correr dos anos, sua forma de escrita e de pronúncia: de Ares, no passado, para Arez, na atualidade. que ficam sendo [9] Um trabalho fundamental – que trata da chegada de judeus ao Brasil –, principalmente portugueses e seus descendentes (os sefardim,ou sefarditas), referindo-se especificamente ao Nordeste e embasado em documentos originais dos anos 1600, é o livro clássico Tempo dos Flamengos, escrito por um dos maiores historiadores do Brasil, o pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello (2001: 258 a 275). Descobridor da primeira Sinagoga das Américas (Kahal Zur Israel), erguida provavelmente em 1637, no Recife, em seu livro este autor revela a presença, no Nordeste, de sobrenomes de ascendência incontestavelmente judaica, tais como: Fonseca, Navarro, Martins, Castro, Nunes, Faria, Oliveira, Pereira, Azevedo, Mendes, Aguiar, Torres, Dias, Frazão, Lemos, Correia, Pinto, Castanho, Saraiva, Mesquita, Coelho, Guimarães, Mota, Cardoso, Bloom, etc (Mello, 2001: 275). Outro clássico sobre o tema, em se tratando da região Nordeste, é o livro de Câmara Cascudo, Mouros, Franceses e Judeus: Três Presenças no Brasil (2001b: 90 a 111), que traz um importante texto sobre o assunto. Especialmente em termos de História norte-rio-grandense, são imprescindíveis os livros: Velhas Famílias do Seridó, do saudoso Olavo de Medeiros Filho (1981); Natal: Uma Comunidade Singular, de Egon e Frida Wolff (1984); e Raízes Iberas, Mouras e Judaicas do Nordeste, da célebre teatróloga Lourdes Ramalho (2002). [10] Grécia e Roma são as civilizações Ocidentais que mais se destacaram na História da Antiguidade Clássica, sendo a Grécia a mais importante daquele período. Constituída inicialmente por povos Jônios e Aqueus, os gregos se consideram descendentes de Heleno (filho de Deucalião), sobrevivente de um dilúvio provocado por Zeus. Daí advém o sinônimo de Hélade para a Grécia, e de helenos para seus habitantes. A cerca de dois mil anos antes de Cristo, a Grécia foi invadida pelos Dórios, que era um povo eminentemente guerreiro, dos quais viria a descender a aristocracia grega dos espartanos, cuja vida social girava em torno, essencialmente, da formação de guerreiros. A cultura dos Dórios, porém, era inferior à dos povos conquistados: a coluna dórica, por exemplo, de capitel reto e sem ornamentos, se comparada aos dois outros estilos de colunas gregas (jônico e coríntio), é esteticamente a mais pobre. Os Dórios obrigaram então os Aqueus a fugirem e ocuparem a Ilha de Creta, já bastante civilizada na época. De religião antropomórfica e politeísta, a cultura helenística adorava deuses semelhantes aos homens, possuindo igualmente fraquezas, virtudes e paixões; desse modo, havia geralmente um deus para cada aspecto da natureza e das atividades humanas. Para os gregos, portanto, Ares era adorado como o deus da guerra. Mais tarde, conquistada a Grécia pelos romanos, houve uma latinização das grandes divindades: Zeus, o pai dos deuses gregos, passou a ser identificado com o deus romano Júpiter, assim como ocorreu, da mesma forma, com Atena (Minerva), Artêmis (Diana), Posseidon (Netuno), Dionísio (Baco), etc. Nesse contexto, Ares, filho de Zeus e Hera, passou a ser identificado com Marte, o deus romano da guerra, que, por sua vez, também era um deus muito importante, ao ponto de ser tido como o mitológico pai de Rômulo (fundador de Roma e seu primeiro Rei) e Remo, concebidos com a humana Rea Sílvia (Souto Maior, s/d: 68-78).
IN"União Brasileira de Esccritores RN - Nave da Palavra"
Hoje vamos ao Vale do Peso. Continua a ser uma freguesia do concelho do Crato. Não deixa de parecer e ser também uma zona onde todo o Alto Alentejo começa. É uma terra, não deixa de ser uma freguesia com 344 habitantes em (2001) para uma área de 65,62Km2. Que a WiKipedia a história assim lha conta. O blog pensa que esta terra e freguesia vai seguir os mesmos passos que Atalaia e Arez... Mas o blog, para alegrar a malta, o blog hoje leva a rapaziada até esta doce "Vale do Peso", e cita Pinho Leal no seu Portugal Antigo e Moderno:
"freguezia, Alemtejo, concelho a 6 Kilometros do Crato, comarca de Niza (foi do mesmo concelho, mas da comarca de Portalegre). 180 Kilometros ao S. E. de Lisboa, 110 fogos. Em 1768, tinha 120, Orago, Nossa Senhora da Luz. E`no priorado do Crato, annexo ao patriarchado. Districto admnistrativo de Portalegre.
O grão prior do Crato (da ordem de Malta) apresentava o cura, que tinha de renda - 120 alqueires de trigo, 24 almudes de vinho crú. meia carga de uva preta, e 3$000 reis em dinheiro.
É uma povoação agradavelmente situada, em uma collina pouco elevada, entre as freguezias de Flor da Rosa e Alpalhão, e a uns 250 metros, a O., da estrada real, à maçadam , do Crato para Niza, Fundão, Castello-Branco, Covilham, Guarda, etc. - Estrada importante, que liga a Beira Baixa e uma boa parte do Alto alemtejo com a estação do Crato, no caminho de ferro de S. E., o qual liga Lisboa com Badajoz. Esta estação, fica entre as da Chança e Portalegre. A estação do Pêso, na linha de Cáceres, passa também a poucos Kilómetros, ao N., de Val do Pêso. Dá o nome a esta freguezia, um pequeno valle, contiguo à povoação (a E.) muito mimoso, com hortas e pomares; sendo notáveis as suas figueiras, pela sua belleza e tamanho descommunal delas...."
"Do estudo -Temas Etimológicos- inserto no Boletim de 1976 do C.D.C.R., do já consagrado Toponimista António Augusto Batalha Gouveia, vamos transcrever o que escreveu a respeito de Alpalhão. "Se o topónimoALPALHÃO mantém intactos raízes primitivas e tudo parece indicar que sim, então posso adiantar que o mesmo procede das vozes anterioresAR-BAR-UM modificar nas variantes diacrónicasAL-BAl UM,AL-BAL-OLeAL-PAL-ON. Vou seguidamente examinar cada um dos morfemas inclusos na locução ARBARUN. A vozAR que por vir do abrandamento de vibrantes se sonorizou, AL, denominava, num remoto estado linguístico, oESPÍRITOou aALMA. O morfemaBAR remonta à voz semíticaBA, cuja a aspiração vocálica foi com o advento da escrita notada pelo signo correspondente ao nossoH e daí a grafiaBAH. EsteBAHsofreu diversas mutações fonéticas decorrentes da referida aspiração surgindo assim os cognatasBAR, BAL, etc. Na sua passagem para o indo-europeu a labial sonoraB permutou com a surda P, originando deste modo os cognatos PAH (em que o "h" tem aqui o valor fonético notado pelo "êta" (grego) PAR, PAL, etc.... O BAHsemítico denominava simultâneamente o PAI divino e o MAR. O vocábulo árabe para "mar" apresenta, no nosso alfabeto, a grafia BAHR. Caso particularmente interessante é o dos vocábulos portugueses "mar" e "mãe" provirem da mesma raiz indo-europeia MAH significativa de "Grande". Quer isto dizer que a grafia actual "Pai" com "i" carece de apoio etimológico, porquanto este nome evoluiu paralelamente à voz "MÃE". O morfena Turano indo-europeu UN,que representava a voz original"U" significativa de "Primogénito divino", "Filho de Deus"e "Homem" sofreu várias fonatações fonéticas filhas do génio próprio de cada idioma,passando a soarOMem sânscrito e On nas línguas germânicas.Do OMem sânscrito derivaram os gregos a palavra"OMOS"(o mesmo),espécie que os latinos importaram para com ele denominarem a nossa e (Homo,port. Homem). Os vedas conservaram a vozUn,como se pode verificar no livro 10-129 do Rig-Vedaque verto para português:
"No princípio não existia o ser nem o não ser; Não havia espaço nem firmamento. Qual era o seu conteúdo? Onde estava e quem o guardava? O que era a água profunda, a água sem fundo? NEM a morte nem a não morte existiam nesses tempos; Nem sinal distinguia a noite do dia.Encerrado no vazio, o "UN" respirava mutuamente; As trevas envolviam as trevas".
Sendo o BAR o "Pai" ou o "MAR" e UN o primogénito divino gerado pelo "mesmo" resultou daqui a arcaica concepção religiosa, e ainda vigente, de que Deus e o Homem, o Pai e o Filho, eram duas naturezas numa só e que ligados pelo Espírito consubstanciavam as três essências divinas, isto é, tornaram-se ao mesmo tempo no Deus Uno e Trino.
Quando a crença nas divindades marinhas cedeu perante o panteão celeste, a direcçãoUN confundiu-se com a voz AN, outro cognato de "ESPIRÍTIO" que passou a apelidar o Deus do Céu assírio-babiliónico.
Os gregos formaram a palavra "homem" prospondo a voz AN a raíz asiânicaTHUR (um dos cognatos do nome "DEUS" :DIUR, DIUSS, DEUS) que corrompida por metátese se transformou emTHROSe daí a dupla direcção ANTHROSe ANDROS (Espírito de Deus).
A voz cognata deANTHROS, ANTHOS, que primitivamente tinha o mesmo significado, foi empregado pelos gregos para denominar a "FLORA"entrando o onomástico lusitano sob as formas equivalentes ANDO e ENDO. Esta última foi anteposta ao tema latinoBélicoou Vélico (guerreiro) passando a apelidar o deus lusitanoEndobélico ou Endovélico (Espírito de Deus guerreiro) corresponde ao Ares Grego, ao Marte romano e ao português S. Jorge. Endobélico ou Endovélico era, entre nós, um deus tópico, isto é, o seu culto circunscrevia-se a uma área geográfica que tinha ALPALHÃO no seu aro. Situava-se o seu santuário no Monte de S: Miguel da Mota, perto de Alandroal. Este último topónimo é revelador do "ubi" de Endobélico, dado que Alandroal decompõe-se nas vozes AL-ANDRO-AL, sendo este o sufixo designativo de "Terra " "Campo" "Área" "Recinto", etc., logo Alandroal encerra a significação primitiva de "Terra de Espírito de Deus Guerreiro", Endovélico, tal como Jeová era o "Senhor do Exército Lusitano". Resumindo tudo quanto venho de dizer, temos que o toponómio ALPALHÃO procede de voz anterior, a qual corresponde a significação etimológica do "ESPIRITO DO PAI E FILHO DIVINO", ou o que é o mesmo "ESPÍRITO DE DEUS".
Meu DEUS!, penso que o geral sobre esta nobre vila e uma fidalga parecida com uma moura encantada, o blog o disse e o conseguiu registar num sorriso no mais doce prazer em seus olhos...
Mas a si Senhor Presidente da Câmara Municipal de Gavião, ao não ter a organização que V.ª EX.ª lidera uma biblioteca, uma biblioteca entre as quinze existentes neste distrito, mas fazendo um contrato com a referida escola para a comunidade consultar - uma escola que agora se diz que é aberta à comunidade local e que não se tem nada a ver com o assunto, uma coisa é parecida quando o blog passou numa reunião de Câmara, lhe foi dito que para o ano que se aproxima se ia fazer a Carta Geológica da Freguesia de Comenda, mas, mas ao que parece tal deliberação não ficou registada e a coisa e momento se passou na referida reunião.
Se o conhecimento deve ser a todos e para todos e eu só quero ver se´existe algum elemento histórico sobre esta zona(s), se eu puder ver que o seja. Se quiser que eu continue a consultar o referido livro do Revendo, na boa- Mas se não permitir que o jornal "Gavião com VOZ", se ao fim de tantos anos não se lhe apossar uma olhada, ele deve estar muito bem escondido, a coisa continua numa boa, mas não se lhe diga que se apoia a cultura,
"A Safra a Moura é um conjunto de enormes massas graníticas, situada entrre Tolosa e a Ribeira do Sôr, junto à Estrada Nacional n.º 118. No seu interior, há uma espécie de refúgio, que tudo indica ser habitado, tendo em conta o seu aspecto. Na realidade, a cobertura fuliginosa das pedras faz concluir que ali o fogo foi várias vezes ateado. Segundo a lenda, durante as lutas da Reconquista Cristã, foi lá um cavaleiro mouro se refugiou com sua esposa, quando era procurado e perseguido pelos companheiros de armas. Certa noite, abandonou o acampamento e partiu na companhia da sua inseparável esposa. Deixou então uma carta dirigida ao comandante do exército: "Conheceis-me bastante bem para concluires que não é o medo da luta que me torna desertor. Nunca receei o confronto com o inimigo. As minhas armas nunca se baixaram, quando o perigo e a mprte mais se avizinhavam. Mas, pensei longamente nas razões invocadas para sustentar esta guerra, sem nunca ter encontrado uma única razão que a justificasse. Sempre ouvi fundamentar esta terrível contenda na incompatibilidade religiosa entre a Cruz e o Crescente. Semelhante justificação não passa de uma falsidade, com o fim de enconbrir os desejos expansionistas dos soberanos que tiranicamente nos governam."
Foram oferecidas quantias vultuosas a quem denunciasse o esconderijo do jovem mourisco. Muitas pessoas da vizinhança foram largamente interrogadas. Mas ninguém violou o segredo. Embora cheios de fome e sofrendo as maiores carências, todos recusaram o ouro da traição e da denúncia.
O povo foi largamente compensado pela sua dedicação e firmeza. Não havia miséria que a jovem moura não secoresse, não havia sofrimento que ela não aliviasse, graças à enorme fortuna trazida para o seu esconderijo e aos largos conhecimentos de medicina constantemente evidenciados.
O cavaleiro mouro, porém, pouco aparecia. Nas raras vezes que era visto, apresentava sempre uma expressão triste e pouco comunicativa. O prestígio da esposa ainda mais o apagava aos olhos do povo. Muitos duvidavam da sua bondade.
Certo dia, uma pobre viúva, já fraca e curvada por tantos anos de sofrimento e miséria, encheu-se de coragem e foi à Safra implorar o auxílio e protecção da encantadora moura. Logo o seu coração se encheu de tristeza, ao ser recebida pelo marido. Porém, fazendo apelo à coragem, lá desfiou o seu rosário de lamentações. O cavaleiro ouviu-a pacientemente e entrou no interior do seu palácio subterrâneo. Regressou com uma cesta de carvões que ofereceu à pobre mulher.
Ela lá partiu desalentada, maldizendo a sua sorte. Pelo caminho, foi deitando fora bagos de carvão. para se aquecer ainda tinha alguma lenha... Precisava, sim de aquecer o estômago, e para isso não via remédio!...
Quando chegou a casa, dominada pelo desespero, esmagou o último bago de carvão que lhe restava. Porém, qual não foi o seu espanto, quando viu apareceu debaixo dos seus pés uma moeda de ouro, saída do interior daquelas partículas negras!
Imediatamente saiu de casa, trilhou o mesmo caminho, procurando insistentemente os carvões abandonados. Todos tinham desaparecido!... Junto à Safra, o cavaleiro mouro aguardava a sua chegada. Disse-lhe então: - Ouve, boa mulher, quando vi a dúvida e a tristeza vincadas no teu rosto, resolvi seguir-te, pois já esperava que deitasses fora os carvões. Aqui os tens novamente. Leva-os contigo e alivia a tua pobreza com essas moedas. Não queiras avalaiar as pessoas pela aparência! Acredita que, enquanto a minha mulher distribui a comida e combate a doença, sou eu que aqui trabalho de dia e noite, preparando os alimentos e os remédios.
A partir dessa altura, depressa se espalharam as virtudes e as bondades do cavaleiro. O jovem casal todos os dias recebia provas do maior carinho e agradecimento-
A felicidade e a alegria, trazidas pelo casal mourisco, viveram muitos anos entre o povo humilde desta região."
in "PEQUENA MONOGRAFIA DE TOLOSA / ALZIRA MARIA FILIPE LEITÃO"
"Junto ao caminho velho que antigamente fazia a ligação entre Tolosa e Nisa, havia uma gruta, conhecida entre a população por "Casinha das bruxas". Segundo a tradição, era ali que esses entes estranhos, tão enraizados na crendice popular, preparavam as suas incursões nocturnas. Já noite adiantada, apareciam a cantar e dançar nas encruzilhadas dos caminhos, revelando uma histeria demoníaca. Todo o povo andava aterrorizado. As crianças andavam amedrontadas e o seu sono era povoado de sonhos terríficos. Para pôr termo a esta situação, juntaram-se quatro rapazes valentes e resolutos, que não acreditavam em bruxas. Pela calada da noite, sem que elas sentissem a sua chegada, surgiram inesperadamente entre as participantes na dança demoníaca. Ainda quiseram fugir, mas as mãos fortes e calorosas dos mancebos seguraram-nas como tenazes. Ali mesmo foram desmascaradas. Foram depois conduzidas à "Casinha das Bruxas", onde permaneceram o resto da noite, sob forte vigilância. No dia seguinte, em pleno dia, foram expostas na praça pública, sujeitas aos olhares e apupos da população indignada. Envergonhadas e humilhadas por todos, essas mulheres depressa . abandonaram a povoação para sempre. Certamente aproveitaram a lição, para nunca mais brincarem às bruxas. A calma voltou ao povoado. Já ninguém acreditava em bruxas. Ao sono das crianças a tranquilidade regressou." in "PEQUENA MONOGRAFIA DE TOLOSA / ALZIRA MARIA FILIPE LEITÂO"
O seu 1.º foral, lhe foi dado pelo grão-prior do Crato em 1262. (Gaveta 15.ª maco 9, n.º 18). Este foral, tinha todos os privilégios do de Évora. Deram-lhe outro foral, os cavalleiros de Malta, em 1281. No 1.º foral, deram os hospitalários (maltezes) aos povoadores de Tolosa, além d´outras, uma herdade, na ribeira do Sôr, com o foro de duas dizimas; porém no 2.º, dizem os senorios - "E dêdes a nós de todo o froyto, que Deus dér, a dizima apiritual, de hum alqueire de trigo, por fogaça, e hum capom, por Sam Miguel, cada huum d´aquelles, que y fordes herdades" (Doc. da Torre do Tombo). Os babitantes de Tolosa, gozavam os grandes privilégios de caseiros de Malta. O rei D. Manuel, lhe deu foral novo (confirmando, em tudo, o antigo) em Lisboa, a 20 de Outubro de 1517. (Livro de foraes novos do Alemtejo, folhas 107, col. 2.ª e folhas 110, col. 1.ª) ... E assim a coisa o Pinho Leal, o nobre amigo, assim ele a escrevia.
" I - De Portugal Antigo e Moderno, de Pinho Leal Vol. I - Pág. 238: "Querem alguns que o nome que lhe foi dado por os bons, puros e salutíferos ares que há aqui".
II - De Domingo Ilustrado - Vol. III - 1898 - Pág. 523: "Provém-lhe o nome dos bons, puros e salutíferos ares que nela se desfrutam".
III - De Informação Particular de 1941, do Dr. Joaquim da Silveira: " No foral de Marvão de 1226, fala-se já "come de Ares" (- ês). Creio ser um topónimo estrangeiro importado por ocasião do repovoamento e colonização do Alentejo. Em Espanha há Arés nas províncias de Alicante e Lérida, Arés del Maestre na de Castellon de la Plana. Em Itália há Arese (Milão). Outros topónimos italianos e espanhóis para cá foram transplantados. A ortografia oficial manda grafar com Z e não S, o topónimo citado, mas pela explicação do erudito toponimista deveria ser escrito com S".
IV - Da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - Vol.XXXVIII - Apêndice - Pág. 514: "O Topónimo AREZ costuma também aparecer ARES (e daí ter-se interpretado como alusão aos bons ares da localidade, o que é inaceitável, ainda a ser correcta tal forma algum dia), e é de crer que se relacione com o nome comum Arentius, de acordo com os vestígios de romanização na região de Nisa, especialmente Nisa-a-Velha, não afastada de AREZ".
V - De Esboço Monográfico de Arez - Povoação do Concelho de Nisa - Algumas notas para um bosqueio etnográfico de cariz económico - social em ordem ao estudo de um território denominado por antonomásia, região das areias no Alentejo Alto (Relatório de Estágio pelo médico-veterinário Dr. José Fazendas Louro Chambel, Lisboa - 1972 - Págs. 28/31).
Antes de transcrever as palavras respeitantes à etimologia , do citado trabalho, que apenas se encontra dactilografado, é uma pena que não seja passado a letra de forma, para ser devidamente divulgado, e ficaria a ser mais uma achega para a história geral do País, porque esta, como se sabe é formada pelas histórias locais. Além disso, afreguesia de AREZ, ficava a possuir a sua monografia isto é, a sua história que, estou certo seria um precioso auxílio para estudos não só dos presentes como ainda dos vindouros. Passo agora a transcrever as palavras do referido livro respeitantes à etimologia de AREZ. "AREZ, (ou ARES) é uma povoação do concelho de Nisa, situada a 7,5 Kms desta vila para Oeste; dista 10 Kms da estação de Vale do Peso, no ramal de Cáceres; 40 kms de Portalegre, sede de distrito e 11 Kms do Tejo (Barca d´Amieira). De prosaica aparência, pouco tem de notável a olhos turistas e desprevenidos. Como tantos outros aglomerados populacionais de porção norte do ALentejo, passará facilmente despercebida, sobretudo a quem cruzar velozmente, de motor nervoso e roncante em busca de melhor poiso para o ócio e outros afazeres.
A aldeia é cindida, a meio, por uma importante estrada, baldeando a toda a hora um sbstancial movimento rodoviário de Lisboa, Ribatejo e Alentejo para as Beiras e vice-versa, o que lhe confere uma falsa representação de progresso, aliás, um pouco à guisa de Tântalo: vendo-o, quase nada usufrue dele; servindo, jaz des-servida, apenas uma fugaz afora ruídos impertinentes e fumos fedorentos que mal presumo - serão em tudo nada toxígeneos.
Mas no arrepjo do progresso, retrogrademos todavia ao longe do tempo e, não recusando o braço à fantasia,mergulhemos nas incomensuráveis e nublosas regiões da História e da Lenda, prescrutando "à vol d´oiseau" o que a nossa curiosidade pode encontrar... Donde proveio o nome desta antiga povoação? Quais as suas origens? Que testemunhos do passado existem que comprovem a asserção da sua alta antiguidade? Comecemos por apresentar uma lista de nomes e apelidos, usados desde os nossos mais remotos avoengos, qu, de algum modo, nos parece interessante relacionar com o topónimo AREZ. No que concerne à legitimidade desta conexão, que os filologistas nos revelam o descaro.
- ARIAS, hoje AIRES, bastante usado em documentos antigos (existe aqui, um tema germânico: ar -). - Airam (séc. XII) hoje Airão, de Ariani. - AREZ (nome judeu) in Gil Vicente (Diálogo de luus tres judeos e dous centurios sobre ressureyção. - Araos. - Araos. - Araes - Arones (de Áron). - Aruncio. - Aro (cercania da povoação) - do lat. aruum - campo de lavradio. - Ares - Marte "...sacrificavam (os lusitanos) um bode aAres e os prisioneiros e cavalo"Estrabão". - Arebtius - deus Arencio. - Ario - outras formas: Arius, Areus. - Ariz - - Arrezo(cidade da Toscana) - Ares - topónimo (concelho de Ponte da Barca). - AREZ- antiga cidade da Lusitânia (perto de Alcácer do Sal). - Aires - lugar histórico romanoARENTIS (Torres d`Ares) - Algarve). - Arez - árabe, existe um lugar em Gaza (Médio Oriente). - Aires - apelido e nome de lugar; abunda no Alentejo
- Que bases haverá o Abade Augusto Ferreira (2) para derivar AREZ de Aresius,ii - Aresio (nome de um santo)? Ou, simplesmente, "...o nome lhe foi dado por os bons, puros e salutíferos ares que há aqui"(3)? Contudo "não deve haver dúvida de que o povoamento do território desta freguesia deve ascender, não apenas a antes do séc. XII, isto é, à denominação arábica efectiva, mas às referidas épocas (pré-romanas e da romanização). Talvez se relacione com elas o velho topónimo AREZ, talvez arabicamente influênciado... O toponómio AREZ costuma também aparecer ARES (e daí ter-se interpretado como alusão aos bons ares da localidade, o que é innaceitável, ainda a ser correcta tal forma algum dia) e é de crer se relaciona com o nome romano Arentis, de acordo com os vestígios de Nisa-a-Velha, não afastada de AREZ (4). Sem pretendermos aventurar-nos nas areias movediças da hipótese, não queremos deixar de referir alguma coisa do que se sabe (ou se julga saber) sobre Aritium ou Arício, misteriosa e importante cidade romana, de cuja a notícia os autores têm encontradas notícias, e "há a mencionar uma povoação que nos textos e numa inscrição romana é designada pelo nome de Aritium Vetus situada, segundo parece na margem esquerda do Tejo (5). Em 1659 foi achada, em Alvega, uma placa de bronze, onde se gravou em latim, o juramento prestado ao imperador Calígua pelos habitantes de Aritium Vetus. A placa desapareceu e apenas icaram cópias da inscrição. Apresentava quatro orifícios, um em cada ângulo, pelo que se presume, deveria estar aposta em edifício ou sítio público. Dadas as suas diminutas dimensões (1X25 palmos) e o facto de ter sido encontrado "...em uma ribeira próxima", não prova suficiência, suposição de Jorge Cardoso, que a localizava em Alveza.
Todavia, parece que existiu outra cidade designada por Aritum Praeetorium. Não são unânimes os historiadores e Aritum figura como tendo existido em vários locais: Abrantes, Benavente, Etc"
O BLOG "GAVIÃO no ALENTEJO" LHE DIZ; MEU AMIGO ALEXANDRE DE CARVALHO COSTA..... O MELHOR SEU ESCRITO E TRABALHO ATÉ AO MOMENTO E ALGUMAS LUTAS SE DEIXARAM FICAR....
O Blog "Gavião no Alentejo", algumas coisitas tem vindo a escrever sobre o vosso muito querido povo e vossa gente. Não pode dizer que é fácil, isto fazer investigação, não deixa de ser um acto muito solitário, onde as fontes não abundam e o informação está muito dispersa ou assim desprezada e uma coisa que podia unidadar e congregar uma sociedade local, onde os políticos até a este tempo que é o presente e assim dormindo como uma bela adormecida e nem Presidente da Republica Portuguesa, em dois anos, se diga dois peripéritos, sobre a defesa do património, em duas presidências abertas, conseguiu acordar a bela adormecida. Não posso deixar de expressar, uma palavra de agradecimento, em terras vossas, o tema das "Alminhas" me foi revelado por três senhoras, num café. Achei muito engraçado, pois fiz muita pesquisa e ninguém me sabia desvirginar o assunto cerebral. Neste meu pequeno apontamento, também questionei alguém muito especial, onde ficava as sepulturas escavadas em pedra, onde a resposta, não me podia ser dada, pois o informante não estava autorizado... Enfim, estou a começar a ser longo...
Hoje, mais uma vez, estando mexendo nuns papéis, se diga, "Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno", vos deixo: "MONTE-CHAMIÇO - freguezia, extincta, Alemtejo, concelho e 10 Kilometros do Crato, comarca de Niza, 180 Kilometros ao S.E. de Lisboa. Em1757 tinha 25 fogos. Orago S. Sebastião, martyr. Era do grão-priorado do Crato, hoje anexo ao patriarchado-- Districto administrativo de Portalegre. O grão-prior do Crato apresentava o cura, que tinha 50$000 réis de renda e o pé d`altar."
Não se pretende, eu assim o não pretendo, fazer um branqueamento de vossa história. Na minha opinião apenas pretendo chamar a vossa consideração para o facto de que a Vila do Sourinho, na minha opinião é capaz de ter muito mais a ver com a origem do vosso passado e povo...
Crato, nos primeiros séculos do Cristianismo foi cidade episcopal, pois no concílio iliberitano cerebrado no ano 300 de Jesus Cristo na cidade de ELvira (Andaluzia), assistiram três bispos lusitanos, sendo um deles Socundino, bispo castraleucense. Ainda no Crato - segundo nos diz Pinho Leal- existe uma rua chamada Episcopia, ou de Bispeiro, onde se supóe que existiu o paço episcopal. A 8 de Dezembro de 1231 (reinado de D. Sancho II) era prior da Ordem da Ordem de S. João de Jerusalém, em Portugal, Mem Gonçalves, que então deu foral a esta vila, no ano seguinte, conforme maço 10 dos Livros dos forais, n.º 9. gav. 6, maço 1, n.º 30. Pelo primeiro ou segundo acontecimento é nítida a compreensão do Láculo no capitel do Pelourinho e nunca a Mitra como se vê em alguns outros pelourinhos. No ano de 1100, Godofredo de Buillon criou em Jerusálem - conforme Rohhicht, Goschichte dos ersten Kreuzzugs (Innsbruck, 1901) a Ordem Militar de S. João de Jerusalém, mudando pouco depois a sede da Ordem para a ilha de Rhodes e a sua denominação passou para a Ordem de S. João de Rhodes. Por fim foi transferida para a ilha de Mata e desde então se chamou até aos nossos dias, Ordem Militar de S. João de Malta. Foi esta Ordem introduzida em Portugal no tempo de el-rei D. Afonso Henriques. Desde o ano de 1350 o Crato principiou a readquerir grande parte da sua grande importância, por ser a sede dos cavaleiros de Malta, os mais priviligiados dxe todos em Portugal. Por conseguinte, predominava a Cruz de Malta - de prata, em campo púrpura - o que devia figurar na segunda face do Pelourinho. A 15 de Novembro de 1512, el-rei D. Manuel I concedeu-lhe novo foral - Livro dos Forais Novos do Alentejo, fls. 54, col. 1 - apesar da vila já ter o pomposo título de notável. A terceira face, portando, devia ter esculpidas as armas do Rei, que era a Esfera Armilar e o Escudo de Portugal. Portanto, na quarta face, sobressai a Esfera Armilar. O pelourinho devia ter sido erigido depois de 1662, ano em que um exército castelhano comandado por D. João de Austria, por cerco a esta vila e a destruíu. A razão por que o capitel termina em forma piramidal, devia ter sido inspirado na arquitectura superior da torre do relógio, muito alta e antiga e também de forma piramidal. O Blog "gavião no alentejo" termina. Gostava de citar o mestre e o autor da obra e mas a mágoa lhe fica porque não encontrou o nome do professor que deixou um simples apontamento e o testemunho de um esbanjar o conhecimento e um orgulho num passado o seu e a todos a um seu povo. Não se pode dizer o mesmo em outras terras e uma situação geográfia. Que o conhecimento ainda não é para todos e só uns são os eleitos...